Sexta-feira da paixão de Cristo caminha pelas ruas escuras de Pinheiros
Ruas de vento lixo e baratas pelo chão da Paes Leme aqueles cabarés
portas no térreo e salão no sobrado mesas de bilhar ao centro
O cheiro de incenso exalado pelos recipientes sacolejados pelos padres
Aquela acústica de cantos divinos e celestiais
Toma a praça toda, subindo aos céus a procissão da Igreja do Largo de Pinheiros
Jesus coberto sob uma túnica púrpura olha para as coxas libidinosas da moça loira
vestida com shorts curtos, delícia de pecar
ter uma consciência pecadora dentro da igreja sem culpa e pecado, nada é gostoso
o barato e o tesão da coisa toda é a culpa, o sagrado ao lado da profanação
bares e botecos do cú do padre, balcões ensebados
salgados pura gordura e fritura e cerveja derramada E conversas passadas que a nada levam
Bebuns doidos quebrando espelhos de bordel batendo copos com a bebedeira na cabeça
chapados até o último fio de cabelo de sua careca lustrosa
Durinhas e outras gordinhas conversando horas a fio
Ou malucos que desenham você em troca de um rango no meio da noite
A noite solta seus urros de delírios cor púrpura enquanto rola na jukebox
Ball and chain da Janis ou Break On through do The Doors
São iluminações terríveis, bestiais e monstruosas que mordem o cérebro
Procura em vão alguma beleza e a volta do lirismo com toda força
em ruas de miseráveis cheias de nóias profetas barbudões
Uma gira dança nua no meio salão agarrada no ferro
Ela é uma Sibila, que lança suas falas advinda do oráculo do vodu
de seus olhos de feiticeira, advinhadora, profetiza, sacertotiza dos terreiros do candomblé
por Ogum, Xangô e toda a sorte de Exus, Zé Pilintra,
do ouro canta todas as profecias e previsões de sua vida
em apenas uma fala direta, dá toda sua vida e expõe as armadilhas e ciladas
Uma aventura leva a ruas desertas, cinco e cincoenta da manhã
Ruas do centro, pessoas passando, hotéis e padarias abrindo
pronto para um amor selvagem e furioso em uma cama do motel
após uma noite de fúria, som e música e muita vertigem de sonho de ópio
sonho com feiticeiras e profetizas negras da umbanda e candomblé e do vodu
Sonha com serpentes traiçoeiras correndo que o picam na barriga
São como vampirescas sanguessugas chupando sua energia e bondade
Mantenha distância do seu quebranto e mau olhado.
REBENTOS DO CELSO: Poemas, causos, memórias, resenhas e crônicas do Celso, poeteiro não-punheteiro, aquariano-canceriano. O Celso é professor de Filosofia numa Escola e na Alcova. Não é profissional da literatura, não se casou com ela: é seu amante fogoso e casual. Quando têm vontade, dão uma bimbadinha sem compromisso. Ela prefere assim, ele também: já basta ser casado com a profissão de professar, dá muito trabalho. Escreve para gerar o kaos, discordia-ou-concórdia, nunca indiferença.
sexta-feira, 6 de abril de 2012
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