REBENTOS DO CELSO: Poemas, causos, memórias, resenhas e crônicas do Celso, poeteiro não-punheteiro, aquariano-canceriano. O Celso é professor de Filosofia numa Escola e na Alcova. Não é profissional da literatura, não se casou com ela: é seu amante fogoso e casual. Quando têm vontade, dão uma bimbadinha sem compromisso. Ela prefere assim, ele também: já basta ser casado com a profissão de professar, dá muito trabalho. Escreve para gerar o kaos, discordia-ou-concórdia, nunca indiferença.
sábado, 26 de setembro de 2009
Escola de samba
Sou adepto da fala, da oralidade
não me ligo muito em escrever
Sou descendente de africanos
sei de história de ascendentes meus
da Bahia, que vieram para Minas
Aliás, todos somos
pois foi o continente onde tudo começou
Reis e príncipes da África
não precisam escrever
fica tudo pelo fio do bigode
Dançando no compasso
da escola de samba
qualquer uma da Norte
Peruche, Rosa ou Mocidade
vendo as mulatas requebrarem suas cadeiras
e suas bundas durinhas rebolando
e penso: que maravilha!
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Somos seres hiperbóreos
Nós humanos, somos seres do futuro. Como em Blade Runner, o caçador de andróides, criaturas que mataram o criador. Ou mesmo andróides que podem ser replicados, mas sem transcendência, sem um destino ou finalidade ou causalidade. Apenas a que escolhemos ou insistimos todos os dias.
O passado serve como um guia para não repetirmos a barbárie, mas sempre devemos nos projeta para sermos mais, sermos extraterrenos, além desta condição miserável e mortal, e não retrôs, saudosistas. Superhomens e supermulheres, supernegros e brancos, superíndios. O além do humano.
Esteticismos de bolhas de sabão
Esta dos Piratas eu lia na revista
Muitas artistas geralmente não possuem o senso histórico e materialista. Falta-lhes a noção do devir, do tempo, da matéria em contradição, ou mesmo a perspectiva genealógica. Não entendem que os conceitos, as idéias e valores se transfiguram. O bom e o ruim, o belo e o feio, o bão e o mau são históricos, portanto, devem ser contextualizados. De acordo com sua época. Do contrário, defendem uma carcaça putrefata, podre e carcomida, vazia de conteúdo e carne.
Não adianta, pode até recorrer à Bíblia, ao Zen Budismo, ao Rodrigues ou ao raio que o parta de qualquer autoridade, mas tudo é feito de pó, carne e osso, e sucumbe ao tempo, à deusa da História. E esta podemos avaliar ou julgar, dependendo da perspectiva, dos enfoques, que não são únicos, mas miríades em conflito em disputa, entre quem tem ou não detem a propriedade privada. E essa não é moral, e não se combate com moral, mas na bala. Não se trata de coisas boas ou ruins, até porque coisas são substâncias, e bom ou ruim, adjetivos. Os adjetivos apenas adocicam as coisas, ou as azedam.
Mas os poetas, os escritores metafísicos e idealistas não possuem o faro de lobos para as caçadas. São os eternos perdidos nas florestas da perdição da masturbação idealista literária. Estragam seus poemas ou escritos com o veneno destilado e defeituoso da Moral. Perdem a noção total e real sobre homens e mulheres, negões e negonas, bichas, lésbicas, crianças, animais e tudo o mais, por tratarem tudo a partir do fundamento, que são bolhas de sabão, que estouram rapidamente. Qual é o fundamento do fundamento?
"Tem gente que passa a vida inteira
Travando a inútil luta com os galhos
Sem saber que é lá no tronco
que está o curinga do baralho"
As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor
Ser radical é ir até a raiz. No humano, a raiz é o próprio homem
Karl Marx
Benzedeiras do interior
Minha mãe leváva-me em casas de benzedeiras
Aquelas mulheres que viviam em casas modestas
rústicas no interior de Minas ou São Paulo
Ouro fino, Caconde, Casa Branca ou outra cidade próxima
Era tudo muito ritualístico quando era moleque
Elas nos benziam e faziam suas rezas, faziam perguntas
e abanavam com ervas úmidas a nossa cabeça
davam-nos um chá para acalmar
Era bem melhor que qualquer psicólogo
Nunca precisei deles
E teve a vez que passamos na frente
da casa do Chico Xavier em Minas
ou do templo ramatis em Leme
Era tudo místico demais
Minha mãe ensinava
a fazer bois, cavalos
com manguinhas e palitos
a cabeça tronco e patas de palito
tudo isso sob a velha jaboticabeira
servia também de balanço
que o velho tio Peppo
lançáva-nos no espaço
Tai uma recordação achada no fundo do baú
terça-feira, 22 de setembro de 2009
A revista do Geraldão e outras da época
Tô fazendo uma força pra lembrar o nomes, mas eu só lembro de uns dois moleques punheteiros que conheci há muito tempo, molecão mesmo. Os dois mais falavam do que faziam: um era o ferrugem e o outro um galego. Ambos eram mais novos que eu.
Eles viviam falando em comer uma mina morena, gata, mais velha, mas que no final só nos fazia nos acabarmos na punheta. Ainda bem que eu era mais modesto, ficava na minha. Era sempre assim: o cão que mais ladrava era o que menos mordia. Eu sempre acabava me virando: não precisava falar, comia quieto.
Era dessa época que eu curtia as primeiras revistas do Geraldão, as do Angeli, as do Laerte, muito boas, com todos os seus personagens: o Bob cuspe, a Rê Bordosa, Deus, os Gatos, Os skrotinhos, Wood Stock, Piratas do Tietê, Os gatos, Fagundes, entre outros personagens (O capitão) etc. Não era o maior fanático de comprar todos os números, mas certamente alguns exemplares que cairam na minha mão, ah se cairam, eu devorei até ao ponto de decorar umas passagens. Como a do Mister G que chega na gata preta do gato branco, brocha e vira tamborim no final das contas.
Era tudo tudo tão inocente naqueles anos 1980, e começava a pintar alguma sacanagem pra completar a minha benção.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Sansei samsara: deusa gueixa de fazer o queixo cair
Deusa das gueixas
Descendente das gueixas
Castaña, magra, pernas e braços fortes, firmes
Cabelos e a pele macios
penas do pássaro tiê-sangue
Moça onça toda pintada, jaguatirica
anda numa caçada noturna
Mestiça divindade japonesa
também filha de negros e brancos
A miscigenação mais interessante
Produziu esta beldade
Boca suave, beijo cálido
grandes e pequenos lábios
produzem o licor de mil néctares
misturados, os mais doces e puros
odores mais suaves e mágicos
de mil romãs abertas
Festa na roça
Num terreiro de terra batida, casa de interior na roça,
uma casa no meio do mato, cheia de santos e velas acesas
As mesas com a culinária típica do interior paulista
cuzcuz e vários doces de milho, curau, pamonha, milho verde, pipoca, paçoca
qual é o doce mais doce que o doce de batata doce?
E outros doces de leite e de frutas cristalizadas
Primaiada chegando abrindo porteiras
levantando a poeira da estrada nos fuscas e tls
Era festa de São João, às vezes, festas de casamento
Tios caipiras contavam histórias do arco da velha
de onça, de lobisomem ou de índios naquela roça
No terraço, dançavam as quadrilhas quando era São João
Ou os bailados iam noite adentro, com sanfoneiros
que tocavam equanto aprendíamos a dançar aos pares
a fogueira crepitava e a lua ficava alta no céu, só espiando
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