segunda-feira, 17 de maio de 2010

Cantorias, repentes, madrigais, blues e soul na madrugada

Rodei pela cidade a noite com a negra índígena potiguar querida, decana, neste final de semana, após fazer algus contatos com professores no interior. Andamos pela Julio Prestes, estação sorocabana, eu já havia passado cedo com quase trinta estudantes jovens todos cheios de entusiasmo para conhecer o Memorial da Resistência e ver a arte pop de Andy na mesma manhã. Passamos pela estação inglesa da Luz, desviando pela cracolândia da Santa Ifigênia, pessoas parecidas com ratos lavando seus trapos na água da calçada andando com os olhos esbugalhados enquanto tentavam guentar alguma carteira de alguem muito bêbado deitado numa calçada no meio da muvuca.

Andando pela Duque de Caxias, Praça Princesa Isabel, pude curtir o Sam Andrew Peter Albin, Dave Getz (os remanescentes, já que o Gurley morreu em 2009) mandando ver as músicas do Big Brother and Holding Company com uma vocal boa pra valer; a Mothers of Re-invention na Avenida São João, que foi boa, mas não como o Ike Willis no ano passado; além do soul cheio de feeling do Living Colour na madrugada, passando pelo Arouche e outras ruas cheias de drags, putas e travecos andando pelas ruas, muita gente breaca, muito louca e mijando pelas ruas, aproveitando que o Kassamba torrava 8 paus de milhões nossos pra fazer mais uma caixinha pro Serra. Seria melhor desenvolver uma política cultural no ano inteiro, com músicos, artistas novos e desconhecidos também, daria para ver tudo com mais calma, ao longo do ano, em locais variados. Mas como vivemos numa sociedade do espetáculo, parece que curtem o tal de pão e circo, então fica por isso mesmo, e o vampiro anêmico ainda promete levar a joça pro Brasil inteiro. Talvez eu esteja pensando errado, mas um monte de gente por aí também não é ouvida ou consultada pra esse tipo de coisa que diminui a sensação de nulidade, de zero à esquerda. No outro dia, ainda conferi a Cantoria nordestina de Elomar, Vital Farias, Xangai e Geraldo Azevedo, foi uma benção ouvir aqueles trovadores repentistas dedilhando os violões sob a torre da Sala SP. Tudo pela bagatela de oito milhos grandões....

Vai ai uma palhinha de um pouco do que os quatro nordestinos mandaram de bom:

Cantiga de Amigo - Elomar Figueira de Melo

Estampas eucalol - Xangai

Vital Farias - A saga da Amazônia

Geraldo Azevedo - Caravana

domingo, 16 de maio de 2010

A voz do baixinho mais carismático do rock nos deixou hoje: die young, after all, you´re buried alive!




Acabo de ler a notícia de que o Ronald James Padavona, Ronnie James Dio, ou simplesmente DIO perdeu a batalha contra o Dragão do câncer neste domingo de manhã, 16 de Maio de 2010, aos 67 anos de idade. O Dio passou por inúmeras grandes bandas de rock and roll, hard rock e heavy metal, como Ronnie and the redcaps, Ronnie and the prophets, Eletric Elves, The Elves, Elf, Rainbow, Black Sabbath, além de sua própria banda.
O Dio era uma espécie destes lordes britânicos do rock. Apesar de ter nascido norte-americano, era mais britânico que o Ozzy, por exemplo, que é britânico, porém mais norte-americano nas atitudes que o Dio(vide Sharons e The Osbournes na TV). O Dio tinha um puta carisma, presença de palco e era dono de uma voz poderosa que era um uísque de qualidade: quanto mais envelhecia, melhor ficava. Nunca esquecerei as seis vezes que pude conferir, ver ou apenas ouvir o elfo aqui em terras tupiniquins, 1992 com o Sabbath, do lado de fora do Olympia, só ouvindo, sem grana; 1995, no Palace, promovendo o Strange Highways; 1997 no  Skoll Rocks, Estádio do Ibirapuera, promovendo o Angry Machines; em 2004 , no credicard hell , promovendo o Master of the moon; em 2006, no credicard hell promovendo o Holy Diver ao vivo; e em 2009, também no credicard hell, com o Black Sabbath, Heaven and Hell., há exatamente um ano, 16 de Maio, em um sábado. Todos foram arrasadores, mandando ver Sabbath, Rainbows, Mistreated e solos (só lamento o fato dele nunca tocar nenhum ELF, já que eu gosto muito do primeiro disco).

Quem não se lembra dos tempos de moleque do vídeo do The last in line? um moleque rocker andando de bicicleta no início maneiro (dedilhado), depois ele entrava num elevador e caia para o inferno e começava a porrada. Ou de noitadas no chopp hauss em que a trilha sonora passava obrigatoriamente por "Catch the Rainbow",  ou "Gates of Babylon" numa fita K7 que rolava no Gera no Bixiga? ou de outro fato ou canção em que este duende estava lá, presente? Ou de uma camiseta véia do homi que ganhei de uma rádio e ainda tenho até hoje, mesmo estando furada? Foi dura a perda... Caras como o Dio não morrem nunca, muito menos suas obras: escalam montanhas prateadas pra ver as estrelas; apenas correm com os lobos pra ver se conseguia pegar o arco-íris no pé da montanha.

A voz do cara melhorava cada vez mais e mais, era um cara de presença marcante, ficará para sempre na nossa memória o baixinho gente boa. Long live rock and roll ao rei do rock and roll! Dio Rules, para sempre! Suas músicas e composições ficarão para sempre em nossos corações sagrados do rock!



Sabbath mandando ver ao vivo "After All (The dead)" do Dehumanizer!

P.S.:
Estou mandando ver desde então como homenagem pela passagem do elfo tudo que o mestre mandou ver para nossa felicidade: bolachas, alguns cds, mp3 que baixei, desde "Ronnie & the redcaps", Ronnie & The prophets, The eletric elves, The elves (tocando Aqualung do Jethro Tull e Simple sister do Procol Harum), além de Elf e muito Rainbow.

Dentre as dezenas de blogs que estão homenageando o Deus do metal, encontrei um bem legal do Luiz Woodstock que tem uma história bem dos primordios do Dio, que conhecemos por aqueles piratões (The elf albuns e as bandas antigonas que ele passou):

http://luizwoostock.blogspot.com/2010/05/ronnie-james-dio-um-grande-legado-heavy.html

E esta é uma homenagem que faço:
a autobiografia através da viagem pelas letras do próprio Elfo de olhos cinzentos do rock and roll, letras medievais, cheias de dragões, duendes, cavaleiros e reis

My eyes
(Dio/Robertson/Johanson)
http://www.youtube.com/watch?v=giewbEw981o


My eyes can see inside tomorrow
My eyes can get next to you
Time flies on wings that just get stronger
My eyes are true


My eyes could see the body shaking
My eyes were clear and bright
Goodbyes are easy to remember
You can see the hurt still there in my eyes


I've fallen off the edge of the world
I've fallen from the top of the mountain
Just to rise again

I've seen it from heaven and hell
I've seen it from the eyes of a stargazer
I want to be invisible
Just get me out of here
Could the dreamer be turning to stone, oh


Rock and roll eyes
The color of rainbows - believer of lies
Rock and roll eyes, yeah


Don't want to see the end of it all
Just get me outta here
Just get me outta here
Just get me outta here


Rock and roll eyes
The keeper of rainbows
Collector of lies

Rock and roll eyes
My eyes


Rock and roll eyes
Tell rock and roll lies
And rock and roll lies

Never end
Rock and roll friends
With rock and roll trends
And rock and roll ends
With my eyes





Meus Olhos



Meus olhos podem ver o amanhã
Meus olhos podem estar ao seu lado
O tempo voa em asas que só ficam mais fortes
Meus olhos são verdadeiros



Meus olhos poderiam ver o corpo chacoalhando
Meus olhos eram claros e brilhantes
Despedidas são fáceis de se lembrar
Você pode ver que a dor continua em meus olhos



Eu caí da borda do mundo
Eu caí do topo da montanha
Para levantar outra vez



Eu o vi do céu e do inferno
Eu o vi dos olhos de um sonhador



Eu quero ser invisível
Apenas me leve pra fora daqui
Poderia o sonhador estar se transformando em pedra, oh



Olhos Rock and Roll
As cores dos arco-íris - crente nas mentiras
Olhos Rock and Roll, yeah



Não quero ver o final de tudo isso
Apenas me leve pra fora daqui
Apenas me leve pra fora daqui
Apenas me leve pra fora daqui



Olhos Rock and Roll
O apanhador de arco-íris
Colecionador de mentiras
Olhos Rock and Roll, yeah
Meus olhos



Olhos Rock and Roll
Diz mentiras Rock and Roll
E mentiras Rock and Roll
Nunca termina



Amigos roqueiros
Com tendências do Rock and Roll
E o Rock and Roll acaba
Com meus olhos

Gargantua e Pantagruel, gigantes gentis


Peguei emprestado de uma biblioteca estes dias o Gargantua e Pantagruel, do escritor renascentista do século XVI François Rabelais. O livro satiriza de tudo relativo à corte e o clero, a cavalaria, enfim, toda estagnação medieval. Há uma legenda uma correspondência das alegorias que o escrito faz a personagens históricos: Gargantua trata-se de Francisco I; Pantagruel seu filho, Henrique II; Grandgousier, o pai de Gargatua, Luiz XII; Gargamelle, Maria da Inglaterra; Picrocolo, o rei de Piemonte. Jean de Entommeurs, o cardeal de Lorena; a égua de Gargantua é a duquesa de Étampes.

Rabelais já faz uma advertência sobre a vida horribilissima de Gargantua, e que o livro é cheio de pantagruelismo. Exalta o riso como propriedade do homem, assim como as categorias de Aristóteles já o haviam anunciado. Viveis alegres, eis. Também dedica o livro aos bebedores, pois Gargantua nasceu de modo estranho, veio o mundo dizendo: "beber! beber! beber!" Daí foi o seu nome, a primeira palavra: "Que garganta a tua! Maior que a do teu pai!" e A sim, ficou Gargantua.

O livro fala de comilanças mil de gargantua, de línguas de vaca defumadas, de chouriços, de presuntos defumados, salsichas, ovas de peixe, todas as comilanças e beberagens feitas por gargantua, comilão gigante dionisíaco e devasso. E também de poeminhas que Gargantua escrevia sobre a cagança, a caganeira, que lembraram-me alguns que fiz, sobre marmelada e caganeira, sobre o poeta cagão, com diarréia, que reproduzo aqui:


"Os colhões nunca deixa de sujar
Quem com papel costuma se limpar"

"Cagão,
borrão,
mijão,
peidão!
Teu troço
saiu
caiu
no fosso
caroço
colosso
tens tu
no cu!
Quero que morras queimado
si agora
nesta hora
daqui saires cagado"

As cagadas são representadas até na forma de silogismos aristotélicos. Até o tomismo do medievo Rabelais satiriza:

«Só se limpa o cu quando ele está sujo: ora, ele só está sujo quando se caga; logo para limpar o cu é preciso cagar».
E daí em diante, tudo com muito humor, sarcasmo e ironia carregadas de palavrões, caralhos a quatro, bocetas e cús, por um cara que se esconde por trás de um bêbado, e publicava em feiras as histórias do povo. Foi censurada pela Sorbonne e considerada herética pela Igreja. Influenciou até o Macunaíma do Marião de Andrade.

Pra terminar e por coincidência em relação ao Rabelais, mando algums sons do Gentle Giant banda que adoro e estava curtindo nestes dias frios (O gigante gentil, como as criaturas da mitologia grega), grupo inglês inspirado no medievo, no renascentismo de Trovadores, Pantagruelismos e Panurge, na sua melhor fase de Octopus e do disco quenão poderia ter outro nome senão Aquiring the taste, ou seja, adquirindo o paladar (no caso deles, a comilança sonora pantagruélica).

Gentle Giant mandando "Pantagruel nativity"



Gentle Giant mandando "the advent of Panurge"


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