alto
voa
O poeta
mas
o
querem
no
chão.
Celso Torrano
15/08/1998 (em outra forma)
Tenha pena
da cena
encenada por bufões
sustentada por
$ mecenas $
Celso 09/1998
Poeta
frágil criatura
culturágil caricatura
09/09/1998
Cocaina inalada
por uma cabeça avoada
acabará em nada
19/09/1998
Poema prostituto
Prostituo meus versos
entre vendedores de amendoim
entre crianças vendendo pastilhas
entre indigentes pedindo esmola
Minha arte é prostituta
vende-se por dinheiro
não é ars pour ars
sustentada por mecenas
A poesia torna-se
tal qualquer mercadoria
entre flores
e outros artesanatos
Celso Torrano, 17/10/1998
Salvem o poeta!
ele está
b b d
ê a o
e
c
a
i
n
d
o
do céu!
Salvem-no,
salvem!
Celso, 15/01/1999
(Forma alterada. Tá vendo como o tempo deixa tudo um pouco melhor? Só um pouco, pois não existe perfeição, não sou nem um pouco platônico idealista para buscar a coisa em si, a "idéia em si de algo" huahuahua)
Sim, meu amigo
este silêncio que a ti incomodava
tu não o suportava, recorda-te?
ele estava repleto de signos
visíveis apenas a olho nu
não por falsários que se escondem
por trás das palavras
21/07/1999
palavras vazias
sem ritmo
não representam suas ações
pessoas falsas
discursos grandiloquentes
enganam o povo e sua boa-fé
hipocrisia mascarada
plo verbo oco
podre, carcomido
08/08/1999
Já me disseram que o destino
vem ao acaso, num golpe da sorte
Quem disse isso, desatinou
não me engano com menino
Hoje vejo certos frangos bobos
vivendo a se estragar
Não saem das mesmas ruas
só querem saber de snifar
Eu lhe digo meu amigo
companheiro ou camarada
escrevo meus versos
em qualquer linha torta
Antes que a vida esteje morta
vou escolher meu caminho
eu que decido aonde vou
não o vento me leva em seu vôo
06/04/1998, reescrito ao reverso
Como hei de repetir a natureza
com todo seu esplendor
se não tenho os dons, os tons e as cores
para tamanha façanha?
A aranha está a tecer
suas teias, suas artimanhas
o tiziu pula num fio, contente
e a gente, e a gente?
A gente tenta marcar o tempo
deixar o nome na estrada
para que outro venha
e refaça sua arte
21/03/1998
De que adianta ser o poeta louco errante
se não leva sua proposta em sua vida adiante?
Seus pensamentos amargos e obsecados
tolos e ignorantes
somente lançam dardos a todos lados
(...)
E a sua diata anarquia
está imersa numa hierarquia
em que pessoas comuns trampam
para sustentar suas regalias
(...)
O tempo passou num instante
o tempo passaou, passou
e você não fez nada relevante
(...)
Você acha que aprendeu
as malandragens da vida
mas você nem aprendeu
a tratar bem da sua mulher
03/03/1998
Foi para a lua ler Robinson Crusoé
(...)
Vou fugir para o fundo do meu mundo
esquecer a dor, por um segundo
Fui para a lua ler Robinson Crusoe
tanta pressa, esqueci mina mulher
Ora essa, eu sou, eu fui e vou
o lobo da estepe
o homem em xeque
com todo o rancor
Cabeça erguida, pro fundo da mata
vou deixar tudo o que empaca
sou um anti social, um louco um poeta
um homem, um deus asceta ou profeta
(...)
22/01/1998
"Chegou a hora de desmascarar os poetas menores
Dedicado ao poeta revolucionário das palavras e ações Arthur Rimbaud
Poetas, poetas, poetas...
Não me venham com lamúrias hiperbólicas
Palavras difíceis ausentes de conteúdo
(...)
Palavras sem história não me interessam
Não me venham com frecuras literárias
(...)
Não me venham com poemas que não falem do homem de dos problemas políticos e sociais
Palavras sem crítica histórica não nos servem
(...)
Palavras são armas revolucionárias
Não me venham com meta-linguagem
(...)
Não me venham com sua visão romântica sobre a sexualidade
(...)
Poetas, poetas, poetas...
é chegada a hora de acertar as contas com a histórica"
Sergio Ricardo,
de Aracajú-SE
O meu método em bem diferente para com meus escritos. Não preciso copiar o John Fante e rasgar meus escritos ou queimá-los, ou qualquer outro que fazia isto. Não, isso não tem nada de original. Pode até soar bonito não ter piedade de si, mas não tem nada de original.
O que eu faço é deixá-los envelhecer. Não os rasgo não, de modo algum. Deixo-os lá, quietinhos num canto, a sofrer a ação do tempo. Nada sobrevive a ele, nem a mulher mais gostosa do mundo.
Nessa atitude, é uma comparação ao envelhecimento de uma bebida um whisky, uma cachaça de alambique. Não que os poemas ficam melhores com o tempo. Mas o tempo torna melhor a minha pessoa, traz mais discernimento e crítica para evitar de escrever da mesma forma sobre as mesmas bobagens. E nem tenho pdor de mudá-los, pois tudo flui como o rio mesmo, não temos tempo, muito menos medo de temer a mudanças das coisas.
O que se vê acima são alguns poemas sobre o poeta de ontem e de hoje. Esses são dos rebentos de vida: rasgos no peito e do Cria-dor, ambos escritos entre 1998 e 1999, portanto mais de dez anos atrás. Os outros sobre poetas e sobre imagens e visões de São Paulo, presentes nos "Fragmentos", fica para uma próxima.
REBENTOS DO CELSO: Poemas, causos, memórias, resenhas e crônicas do Celso, poeteiro não-punheteiro, aquariano-canceriano. O Celso é professor de Filosofia numa Escola e na Alcova. Não é profissional da literatura, não se casou com ela: é seu amante fogoso e casual. Quando têm vontade, dão uma bimbadinha sem compromisso. Ela prefere assim, ele também: já basta ser casado com a profissão de professar, dá muito trabalho. Escreve para gerar o kaos, discordia-ou-concórdia, nunca indiferença.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
terça-feira, 14 de julho de 2009
hai-kai encontrado no fundo do baú
Encontrei mas algumas coisas que fiz, no meio dos livros. Eis ai alguma mostra delas. São algumas tentativas de haicais, esta arte que dominava muito bem o Leminski, o polaco-curitibano-louco-lutador de judô e ainda por cima trotskista e sua companheira Alice Ruiz, e também da Teruko Oda ou de uma Olga Savary também.
Que depende muito do desprendimento do eu, do ego, deste racionalismo embotado em que estamos e muitos se deixam tomar: o personalismo. Muita síntese, conseguir objetivar, traduzir um imagem. Devemos sair deste nosso egoísmo e nos projetarmos para fora, expandir-nos em direção ao Mundo e ao Outro. Afinal, "o caminho mais pra fora é o caminho mais para dentro", como diria o pai do haiku, Bashô.
Tem outras coisas que, embora antigas, continuam valendo atualmente.
Não acho grande coisa, nunca achei. Nunca tive aspiração à perfeição. Só quis escrever e escrevo: nunca me submeti ao ponto de "pedir licença" ou autorização para alguém ou uma camarilha "supostamente melhor" para escrever. Ponto final.
Nisso concordo com o que diz o velho Ulisses Tavares, da Editora Pindaíba: não peço licença "aos feudos dos suplementos lítero-compadristas “(do tu me citas, que eu te cito”).
Seguem alguns hai kus urbanos:
Lugar asfaltado
tempo de chuva vai e vem
um grilo a cricrilar
*
drosófilas filam
os frutos oferecidos
fruteira natural
*
formigas famintas
exércitos de Davis
levam a geléia
comida com pernas
dezenas centenas delas
sobem paredes
*
chuva na calçada
um caldeirão borbulhante
fervendo no chão
24 e 27/9/1998
I
sacos e caixotes
noite úmida paulistana
mendigos nas ruas
II
nas ruas paulistanas
primavera úmida e cálida
e o lixo humano
29/10/1998.
Belchior: um cantor pé no chão, com olhos na terra, mas que não deixou de amar
Desde que me conheço por gente que curto Belchior, ainda que indiretamente. Miha mãe tinha um compacto da Elis Regina com músicas que eram do disco "Falso Brilhante" (aliás, tem ainda até hoje). Nele haviam algumas músicas deste Cearense, que com Fagner, Amelinha, Roger, Teti e Ednardo integraram o Pessoal do Ceará no início dos 1970.
O Belchior sempre foi o mais crú, mais realista de todos, podemos ver muitos fragmentos de sua biografia em suas letras, como a Palo Seco: "tenho 25 anos de sonho e de sangue de américa do sul / Um tango argentino me cai melhor que um blue", esse rapaz latino americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. Era esta nordestinidade que o fazia seco, mandar estocadas a palo seco:
"Sei que assim falando pensas
que este desespero é moda em 73
e eu quero é que esse canto torto
feito faca corte
a carne de vocês"
O Belchior sempre foi muito atento aos fatos e acontecimentos de sua época, sempre olho aberto, "o seu delírio era com coisas reais", como bem dizia. Ele nunca deixou de lado suas origens, de migrante nordestino, que como dizia a Lei do Newton, o que caiu do Norte desce pro Sul fatalmente:
"Eu me lembro muito bem
jovem que desce do Norte
Os pés cansados e feridos de andar légua tirana
(...)
Que ficou apaixonado e violento
Como é comum no seu tempo"
Sua ironia com os vendidos é latente e o inconformismo de suas letras,evidente. Assim como sua solidariedade com os vencidos: "Sons, palavras, são navalhas/ E eu não posso cantar como convém/ Sem querer ferir ninguém...". As palavras não foram feitas para agradar, devem soar como um soco na cara, quer goste ou não goste, não são apenas para adular, fazer pose ou média, muito menos para vender apenas (claro que também precisa, não sou nem um pouco purista, mas não só, tem que ter algo mais). Seus versos são como uma faca, que entram a seco, golpes secos, cortando nossa carne e a hipocrisia, o deixar-passar e conformar-se com tudo. Belchior faz regurgitar, vomitar tudo, não engolir de forma alguma.
Podemos ver muitas imagens de sua experiência, como cantor de cabaré, e a relação com as damas, o cafetão bruto: "não saque a arma no sallon, pois eu sou apenas o cantor". É oue vemos na ter ou não ter:
"Quando eu vim para a cidade, eu ganhava a minha vida,
ave-pássaro cantando na noite do cabaré.
E era mais pobre do que eu a mulher com quem dividia,
dia e noite, sol e cama, cobertor, quarto e café.
O Nordeste é muito longe. Eh! saudade. A cidade
é sempre violenta.
Pra quem não tem pra onde ir, a noite nunca tem fim.
O meu canto tinha um dono e esse dono do meu canto
pra me explorar, me queria sempre bêbado de gim.
O patrão do meu trabalho era um tipo de mãos apressadas
em roubar, derramar sangue de quem é fraco, inocente.
Tirava o pão das mulheres - suor de abraços noturnos,
confiante que o dinheiro vence infalivelmente.
(...)
To be or not to be
quer dizer ter ou não ter"
Ele bem que poderia ser o co-autor (e foi, na vida real, sem precisar mesmo escrever) do "Garoto de Aluguel", que fica muito bacana quando canta em seus shows, Às vezes com o Zé Ramalho, numa versão de tango argentino:
Sem escrever aquela coisa com distanciamento, o cara não estava lá apenas para curtir ou tirar um sarro, ele trampou e foi aquilo mesmo, e sabe muito bem como é a escória. Não só tira proveito dela como um turista acidental, mas fez parte dela de verdade.
Às vezes ele nos coloca em uma sensação de angústia e impotência diante do cotidiano, do sem sentido do trabalhar para pagar contas, rolar a pedra de Sísifo para o alto para vê-la rolar montanha abaixo. E começar tudo de novo, no dia seguinte:
"No escritório onde trabalho e fico rico
Quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor"
O trabalho dignifica mesmo o homem, o enobrece, ou o rouba, para enriquecer os outros? Qual a finalidade? Podemos inverter o senso comum: "O trabalho empobrece o homem".
Quanto ao amor, ele é bem franco, ingênuo até quase, mas nunca metafísico em relação ao amor. Despreza a alma, mas não ao amor corpóreo, sensual. Como são as coisas, nada metafísicas, anti-metafísicas, tudo é finito, tudo morre e se finda:
"Quero meu corpo bem livre
Do peso inútil da alma"
Ainda assim, com toda esta peleja e luta para sobreviver, o cara ainda não peredera a ternura e a ingenuidade do amor simples e o gosto por coisas banais:
"Quero a sessão de cinema das cinco
Pra beijar a menina
e levar a saudade na camisa
toda suja de batom"
Segue alguns outros trechos do próprio:
"Já faz tempo
eu vi você na rua
cabelo ao vento,
gente jovem reunida
na parede da memória
esta lembrança
é o quadro que dói mais
(...)
E hoje eu sei
Eu sei!
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Está em casa
Guardado por Deus
Contando seus metais..."
" No presente a mente e o corpo é diferente
e o passado é uma roupa que não serve mais"
" Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moço, me sinto são, salvo e forte
(...)
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro"
"Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente
Romances astrais
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...
(...)
Um preto, um pobre, um estudante
uma mulher sozinha
(...) pessoas cinzas
e a solidão das pessoas nessas capitais
a violência da noite
Cravos e espinhas no rosto,
rock, hot dog (...)
Amar e mudar as coisas me interessa mais"
"Não cante vitória muito cedo não
nem leve flores para a cova do inimigo"
"Viver é que é o grande perigo"
domingo, 12 de julho de 2009
Os yuppies e os operários-padrão (ou seria patrão?) da cultura
"Lembrei de meus dias em Nova Orleans, vivendo de duas barras de caramelo de cinco centavos por dia, ao longo de várias semanas, para ter tempo livre para escrever. MAs passar fome, infelizmente, não melhora a arte. Apenas a obstrui. A alma de um homem está profundamente enraizada em seu estômago. Um homem pode escrever muito melhor após comer um belo pedaço de filé acompanhado de uma dose de uísque do que depois de uma barra de caramelo de um níquel. O mito do artista faminto é um embuste.", Chinaski, Factótum
"Compreendo que ele queria ser simpático, mas não afrouxa, só fala de literatura. Puta merda, que assunto mais chato! Sabe que nunca conheci um escritor que eu tivesse gostado. são uns sujeitos que não valem nada, umas verdadeiras bostas humanas..." Bukowski, Você aconselharia alguém a ser escritor
Não é de hoje que a arte, a cultura e a literatura submeteram-se à mercantilização, À industrialização e ao comércio, ao mercado. Não sou nem um pouco frankfurtiano neste ponto, não compartilho das lamúrias de um Adorno, nem do Platonismo da perda da “aura” de um Benjamin. Pra mim, tem mais é que copiar, reproduzir mesmo, dará mais acesso ao povo a coisas que só a burguesia tem acesso, como óperas, música erudita, filmes etc., que sã caríssimos os ingressos para assistir.
Que tenha vida longa pirataria, e que morra a hipocrisia de corporações Sony, que vendem mídias, computadores, e depois vem com ranço moralista "lutar contra a pirataria".
Não trago nenhum traço ou ranço de purismo com o fato de se ganhar grana com a arte, com a cultura, com a literatura. Muito pelo contrário. Acho mais sincero do que ficar fazendo rodeios e arrumando desculpas ou justificativas para tal ato. Vender poemas é o mesmo que vender amendoins, brigadeiros, ou entregar pães e bolos, ou abrir uma massa de pizza, ou trampar em uma livraria. Tudo isso já fiz. A sociedade capitalista transforma tudo em mercadoria, inclusive o trabalho, que é assalariado e há uma divisão internacional, entre manual e intelectual etc, como examinou corretamente o Marx. Um escritor, um artista ou poeta realizam trabalho intelectual. Mas não deixa de ser trabalho, e ainda, recebe por isso. Inclusive a literatura, o teatro etc "marginais" (mais adaptada ou integrada ao possível do que está hoje, impossível).
O que eu acoh eengraçado é ver os yuppies e operários-padrão culturais. Conheço alguns, há os proletas, os lumpen sem consciência, alguns são até pequenos burgueses, pois são pequenos proprietários de teatros (tenho um amigo que foi empregado de um deles), de um negócio cultural.
Os yuppies culturais são ardilosos, tentam mentir, mas não conseguem enganar-nos com sua produção de ideologia, pois não tem como disfarçar sua dupla ou tripla jornada de trabalho num mesmo dia. Na maioria das vezes, noite, pois são dandis, e até conseguimos ver uma pouco de poesia nisto, ainda que não os faça diferente de nada. Pois até o dandismo mais famoso de um Wilde ou da geração batida ensinou-nos a viver não de acordo com padrões políticos ou apolíticos, comportamentais etc. Mas eles mesmo seguem um padrão já preestabelecido. Às vezes são até quatro jornadas, pois até a farra faz parte da sua jornada.
Ninguém nunca pediu que façam um realismo soviético com a arte. Seria instrumentalizá-la, o que é péssimo, pois tem de ter liberdade na criação. Mas esperamos um pouco menos de mentira, ou ao menos, um pouco menos de ocultamento e mascaramento da realidade nua e crua.
Os yuppies, os operários-padrão da cultura, no entanto, parecem trazer alguma culpa ou má-consciência, uma vez que precisam ficar justificando suas escolhas ou explicar o modo de vida que levam perante o público. Grande tolice. Ao invés do mascaramento (aliás, que faz parte da sua produção teatróloga), seria mais simples apresentarem-se como simples trabalhadores da arte, não se achar mais do que ninguém pelo que faz. Pois nesta e em toda sociedade em que o trabalho é assalariado, há venda de mercadoria e da sua força de trabalho, ainda que sejam suas elucubrações cerebrais, seu dispêndio de cérebro, de suas performances teatrais ou ainda das biritas que bebem para produzir tudo isto. Ou não precisam pagar suas contas e fazer suas compras, como todo mundo precisa?
Se não precisassem, seriam mais dignos e honesto em retirar-se para o meio do mato e apenas recitar poemas e suas peças bucólicas, sem cobrar por isso. Mas não se retiram, e aí que está a grande contradição da parada de se ahcar mais. Chega de idealismo e purismo babacas de ficar fazendo rodeios, poetas, dramaturgos e escritores.
Enfim, um empacotador do supermercado faz a mesma coisa, sem precisar se exibir ou pensar que faz grande bosta, e pode ser um poeta também nas horas vagas: pois é tudo a mesma merda mesmo, tudo é trabalho, e serve para ganhar dinheiro no final das contas.
"- Os escritores são prostitutas - disse Stobbs - os escritores são as prostitutas do universo.
- As prostitutas do universo se dão muito melhor, meu amigo."
Charles Bukowski, numa fria.
(É incrível, pois escrevi uns versos lá pra trás, podem conferir, que falam "prostituo meus versos...". Isso há uns 12, 11 anos. Nem tinha lido o Buk naquela época. Mas é a coincidência)
"- Muitos caras aqui pensam que são bons no volante. (...) Não sou nenhum pastor, mas vou lhes dizer uma coisa: essa vida que as pessoas levam hoje em dia está deixando todas elas loucas, e dá para ver essa loucura no modo como dirigem. Não estou aqui para dizer a vocês como tocar suas vidas. Vocês tem que perguntar isso pros seus rabinos, padres ou pras putas da esquina. Estou aqui para ensinar vocês a dirigir.
- Puta que pariu - disse um garoto ao meu lado. - O velho Smithson manda ver hein
- Todo homem é um poeta - eu disse"
Chinaski em Factótum.
12/07/2009
"Compreendo que ele queria ser simpático, mas não afrouxa, só fala de literatura. Puta merda, que assunto mais chato! Sabe que nunca conheci um escritor que eu tivesse gostado. são uns sujeitos que não valem nada, umas verdadeiras bostas humanas..." Bukowski, Você aconselharia alguém a ser escritor
Não é de hoje que a arte, a cultura e a literatura submeteram-se à mercantilização, À industrialização e ao comércio, ao mercado. Não sou nem um pouco frankfurtiano neste ponto, não compartilho das lamúrias de um Adorno, nem do Platonismo da perda da “aura” de um Benjamin. Pra mim, tem mais é que copiar, reproduzir mesmo, dará mais acesso ao povo a coisas que só a burguesia tem acesso, como óperas, música erudita, filmes etc., que sã caríssimos os ingressos para assistir.
Que tenha vida longa pirataria, e que morra a hipocrisia de corporações Sony, que vendem mídias, computadores, e depois vem com ranço moralista "lutar contra a pirataria".
Não trago nenhum traço ou ranço de purismo com o fato de se ganhar grana com a arte, com a cultura, com a literatura. Muito pelo contrário. Acho mais sincero do que ficar fazendo rodeios e arrumando desculpas ou justificativas para tal ato. Vender poemas é o mesmo que vender amendoins, brigadeiros, ou entregar pães e bolos, ou abrir uma massa de pizza, ou trampar em uma livraria. Tudo isso já fiz. A sociedade capitalista transforma tudo em mercadoria, inclusive o trabalho, que é assalariado e há uma divisão internacional, entre manual e intelectual etc, como examinou corretamente o Marx. Um escritor, um artista ou poeta realizam trabalho intelectual. Mas não deixa de ser trabalho, e ainda, recebe por isso. Inclusive a literatura, o teatro etc "marginais" (mais adaptada ou integrada ao possível do que está hoje, impossível).
O que eu acoh eengraçado é ver os yuppies e operários-padrão culturais. Conheço alguns, há os proletas, os lumpen sem consciência, alguns são até pequenos burgueses, pois são pequenos proprietários de teatros (tenho um amigo que foi empregado de um deles), de um negócio cultural.
Os yuppies culturais são ardilosos, tentam mentir, mas não conseguem enganar-nos com sua produção de ideologia, pois não tem como disfarçar sua dupla ou tripla jornada de trabalho num mesmo dia. Na maioria das vezes, noite, pois são dandis, e até conseguimos ver uma pouco de poesia nisto, ainda que não os faça diferente de nada. Pois até o dandismo mais famoso de um Wilde ou da geração batida ensinou-nos a viver não de acordo com padrões políticos ou apolíticos, comportamentais etc. Mas eles mesmo seguem um padrão já preestabelecido. Às vezes são até quatro jornadas, pois até a farra faz parte da sua jornada.
Ninguém nunca pediu que façam um realismo soviético com a arte. Seria instrumentalizá-la, o que é péssimo, pois tem de ter liberdade na criação. Mas esperamos um pouco menos de mentira, ou ao menos, um pouco menos de ocultamento e mascaramento da realidade nua e crua.
Os yuppies, os operários-padrão da cultura, no entanto, parecem trazer alguma culpa ou má-consciência, uma vez que precisam ficar justificando suas escolhas ou explicar o modo de vida que levam perante o público. Grande tolice. Ao invés do mascaramento (aliás, que faz parte da sua produção teatróloga), seria mais simples apresentarem-se como simples trabalhadores da arte, não se achar mais do que ninguém pelo que faz. Pois nesta e em toda sociedade em que o trabalho é assalariado, há venda de mercadoria e da sua força de trabalho, ainda que sejam suas elucubrações cerebrais, seu dispêndio de cérebro, de suas performances teatrais ou ainda das biritas que bebem para produzir tudo isto. Ou não precisam pagar suas contas e fazer suas compras, como todo mundo precisa?
Se não precisassem, seriam mais dignos e honesto em retirar-se para o meio do mato e apenas recitar poemas e suas peças bucólicas, sem cobrar por isso. Mas não se retiram, e aí que está a grande contradição da parada de se ahcar mais. Chega de idealismo e purismo babacas de ficar fazendo rodeios, poetas, dramaturgos e escritores.
Enfim, um empacotador do supermercado faz a mesma coisa, sem precisar se exibir ou pensar que faz grande bosta, e pode ser um poeta também nas horas vagas: pois é tudo a mesma merda mesmo, tudo é trabalho, e serve para ganhar dinheiro no final das contas.
"- Os escritores são prostitutas - disse Stobbs - os escritores são as prostitutas do universo.
- As prostitutas do universo se dão muito melhor, meu amigo."
Charles Bukowski, numa fria.
(É incrível, pois escrevi uns versos lá pra trás, podem conferir, que falam "prostituo meus versos...". Isso há uns 12, 11 anos. Nem tinha lido o Buk naquela época. Mas é a coincidência)
"- Muitos caras aqui pensam que são bons no volante. (...) Não sou nenhum pastor, mas vou lhes dizer uma coisa: essa vida que as pessoas levam hoje em dia está deixando todas elas loucas, e dá para ver essa loucura no modo como dirigem. Não estou aqui para dizer a vocês como tocar suas vidas. Vocês tem que perguntar isso pros seus rabinos, padres ou pras putas da esquina. Estou aqui para ensinar vocês a dirigir.
- Puta que pariu - disse um garoto ao meu lado. - O velho Smithson manda ver hein
- Todo homem é um poeta - eu disse"
Chinaski em Factótum.
12/07/2009
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