segunda-feira, 8 de março de 2010

A virgindade na guerra da política sindical e da greve


Eu até compreendo as razões de alguns artistas verem as coisas de fora, na perspectiva de rãs em sua maioria, e poucos, na de águia. Vários artistas e estetas sempre levantaram a lebre da autonomia da arte em relação à sociedade, à política, da arte como um vir-a-ser, uma negativo, uma utopia. Mas daí cobrar dos mesmos que tenham a dramaturgia  ou poesia de um Brecht, Breton, mesmo o Plínio  Marcos  ou qualquer outro, já é demais.

No entanto, só posso entender como preconceito ou desconhecimento o sentimento de estar do lado de fora da guerra. A dita marginália de outrora, o dark side, o noir, tudo é um belo romance que vende em pockets nas bancas de jornal. É um estar fora tão integrado possível, e não há problema nenhum nisso. Não recrimino ou discrimino ninguém pela adaptação ou adesão ao sistema, ou muito menos sua alienação. Até penso que cada um é alienado em  alguma coisa, pois não é possível ser um cara entendido em 100% de tudo.
Até a classe operária, a classe revolucionária quando para si, segundo Marx se aburguesou  ou "chegou ao paraíso" desde a Alemanha com a social-democracia, tornou-se aristocracia operária e até mesmo apoiou o nazismo anos depois. O proletariado deu adeus. A burguesia é a classe universal a partir da modernidade. A história se repete, e não penso que é errado querer uma confortably life, principalmente se se arrebenta para conseguir algum tiquinho. O trabalhador que vive na favela com certeza não está lá porque gosta, e se pudesse, gostaria de comer salmão, lagosta e caviar acompanhado de chamapanhe francês, por que não? se bem que pense que ainda assim, a vida não se resume a isto, nem só de pão vive o homem, às vezes é necessário um pouco de poesia.

É claro que seria demais cobrar experiência de quem não tem, como artistas lumpens, da marginália, dos dandis e flaneurs, embora eles sejam um sujeito importante, que tem um potencial de mudanças, eles pairam sobre a luta, portanto, não estão tão apegados ao econômico, tem o sentido do sonho, do imaginário, que é importante a beça. Mas não estar tão apegados ao econômico não quer dizer que este não o puxe pelo pé, mesmo que o artista seja o seu próprio pequeno empresário. Mesmo que ele que ele produza seu próprio pequeno capital e seu próprio assalariado, ele depende sempre do econômico pra lançar sua obra, em qual meio for, a não ser que tenha um grande mecenas por trás ou herdou uma grande fortuna. E o que faz, independente do horário, se bate ou não cartão, é um trabalho também, trabalho intelectual, mas que não o deixa de ser um trabalho e exige certa disciplina para sua produção. O fator econômico sempre puxa todos pelo pé, independentemente de escolha. Estamos todos no mesmo barco furado, só que como farão alguns tipos de luta, se são seus próprios patrão e empregados?

Dai talvez a desunião e concorrência individual dos artesãos e artistas, que só puxam a brasa pra sua sardinha e esquece muitas lutas que são coletivas, como o direito à cultura, o aumento no orçamento no incentivo e financiamento à cultura do povão. São poucos o que bancam isto e que fazem a discussão e ação em torno de políticas públicas. A maioria só trata de questões ou brigas individuais ou pessoais, que não passam de agressões verbais ou físicas contra outros trabalhadores e não contra os verdadeiros opressores. É um verdadeiro umbiguismo, corporativismo em seu sentido mais ralé de puxa-saquismo. Afinal, porque nem é ao povão que eles chegam, só na classe média mesmo, e esta é farisaica.

Tenho compreensão de que quem só tem a idéia da coisa, o conceito não-vivido, dificilmente saberá da emoção de entrar no ringue da política sindical, pois não tem a experiência, a sensação e a pegada para a bagaça. Quem nunca fez uma greve nunca saberá o que é uma, da mesma forma que quem nunca deu uma, só quando trepar saberá como é. É como em uma luta de boxe, você tem dez assaltos para vencê-lo, mas sempre procuraremos levá-lo a knock-out o mais rápido possível. Você deve ter estratégia: encaixar uns cruzados de direita, outros pela esquerda, uns jabs, pra derrubar o adversário. Às vezes é mais difícil, como agora, sentir-se sobre uma torrente de porradas que o adversário nos abate.

Uma greve é uma guerra, o sangue ferve, a adrenalina vai a mil, mas a cabeça deve jogar como no xadrez, como um estrategista. Só julga bom para quem é um tanto louco. Quem se interessa por política com P maiúsculo está fora de si ou não deve ter um pingo de juízo na cabeça, diriam Platão e Aristóteles. Pois não é legal, só se faz porque é necessário, guerra é guerra, tem que ser um tanto apaixonado pela coisa, assim como em tudo o que se quer fazer bem.

E na guerra, como se sabe, não há mocinhos nem bandidos, vale tudo, apenas interesses, golpes baixos, nem bons, nem maus, que se evidenciam como putas véias sabem muito bem o que desejam. Não tem nada de santos "ideais" ou "causas nobres" como se diz quem está de fora: a coisa é mais pragmática, são manobras de guerra e tiros de pistola à queima roupa no inimigo. E o que se quer não são grandes "causas" ou "ideais" nobres, que são coisas de freiras, mas pão, redução da jornada e consequentemente um pouco mais de poesia. Mas até é compreensível a incompreensão dos virgens no assunto. Desde os anos 1990 foram desfavoráveis para a ação sindical. O desenvolvimento, o crescimento e a retomada do crescimento pós-crise mundial de 2008 no Brasil fará com que as lutas econômicas, as lutas de classe, tendem a voltar a cena, e talvez os puristas aprendam algo sobre o assunto. Em algum momento, se cai do cavalo, se leva um coice da realidade. A queda é inevitável.

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