domingo, 16 de maio de 2010

Gargantua e Pantagruel, gigantes gentis


Peguei emprestado de uma biblioteca estes dias o Gargantua e Pantagruel, do escritor renascentista do século XVI François Rabelais. O livro satiriza de tudo relativo à corte e o clero, a cavalaria, enfim, toda estagnação medieval. Há uma legenda uma correspondência das alegorias que o escrito faz a personagens históricos: Gargantua trata-se de Francisco I; Pantagruel seu filho, Henrique II; Grandgousier, o pai de Gargatua, Luiz XII; Gargamelle, Maria da Inglaterra; Picrocolo, o rei de Piemonte. Jean de Entommeurs, o cardeal de Lorena; a égua de Gargantua é a duquesa de Étampes.

Rabelais já faz uma advertência sobre a vida horribilissima de Gargantua, e que o livro é cheio de pantagruelismo. Exalta o riso como propriedade do homem, assim como as categorias de Aristóteles já o haviam anunciado. Viveis alegres, eis. Também dedica o livro aos bebedores, pois Gargantua nasceu de modo estranho, veio o mundo dizendo: "beber! beber! beber!" Daí foi o seu nome, a primeira palavra: "Que garganta a tua! Maior que a do teu pai!" e A sim, ficou Gargantua.

O livro fala de comilanças mil de gargantua, de línguas de vaca defumadas, de chouriços, de presuntos defumados, salsichas, ovas de peixe, todas as comilanças e beberagens feitas por gargantua, comilão gigante dionisíaco e devasso. E também de poeminhas que Gargantua escrevia sobre a cagança, a caganeira, que lembraram-me alguns que fiz, sobre marmelada e caganeira, sobre o poeta cagão, com diarréia, que reproduzo aqui:


"Os colhões nunca deixa de sujar
Quem com papel costuma se limpar"

"Cagão,
borrão,
mijão,
peidão!
Teu troço
saiu
caiu
no fosso
caroço
colosso
tens tu
no cu!
Quero que morras queimado
si agora
nesta hora
daqui saires cagado"

As cagadas são representadas até na forma de silogismos aristotélicos. Até o tomismo do medievo Rabelais satiriza:

«Só se limpa o cu quando ele está sujo: ora, ele só está sujo quando se caga; logo para limpar o cu é preciso cagar».
E daí em diante, tudo com muito humor, sarcasmo e ironia carregadas de palavrões, caralhos a quatro, bocetas e cús, por um cara que se esconde por trás de um bêbado, e publicava em feiras as histórias do povo. Foi censurada pela Sorbonne e considerada herética pela Igreja. Influenciou até o Macunaíma do Marião de Andrade.

Pra terminar e por coincidência em relação ao Rabelais, mando algums sons do Gentle Giant banda que adoro e estava curtindo nestes dias frios (O gigante gentil, como as criaturas da mitologia grega), grupo inglês inspirado no medievo, no renascentismo de Trovadores, Pantagruelismos e Panurge, na sua melhor fase de Octopus e do disco quenão poderia ter outro nome senão Aquiring the taste, ou seja, adquirindo o paladar (no caso deles, a comilança sonora pantagruélica).

Gentle Giant mandando "Pantagruel nativity"



Gentle Giant mandando "the advent of Panurge"


2 comentários:

Lilith disse...

MUITOOOOOO LEGAL!GOSTINHO DE QUERO MAIS.
sERÁ QUE VC PODERIA FALAR UM POUCO DO CONTEXTO HISTÓRICO DA ÉPOCA EM QUE FOI ESCRITO O LIVRO. RELIGIÃO E POLÍTICA.
bEIJOS.

Celso Augusto, O autor dos rebentos disse...

Olá mel. O contexto é a transição do feudalismo para o capitalismo, naquela fase, mercantilista. Os escritores, artistas, pintores eram financiados pelos mecenas, ricos comerciantes.
O estado era absolutista, tinha influencias da teoria de Bodin, Bossuet e Filmer.
Quanto ao aspecto religioso, passava-se pelo século XVI o movimento de reforma. Na frança, seu principal representante era o Calvino.
Abraço, convido para seguir o blog e comentá-lo.
Tentei segui-la, mas não deu.

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