sábado, 12 de junho de 2010

Tow Waits: como era gostoso o meu inglês


Escrevi este artigo em 2008, por algumas falhas técnicas, ele subiu

Eu estudei um pouco de inglês, não sinto nenhuma culpa cristã ou moral ao fazer aulas particulares por três semestres. Dava um certo trabalho acordar cedo e ir com cara de sono aos sábados, pegar busão, mas este estudo extra rendeu um bocado até hoje, devido ao exercício, consigo entender o que dizem  falar um pouco e ler um bocado de coisas. Na faculdade, por exemplo, foi uma mão na roda para estudar algumas coisas  que não tinham tradução, como o Protágoras do Platão, o Patriarca do sir Filmer, o tratado do Locke,. Claro que isso ajudou até ler algumas coisas a mais que eram do meu gosto, The Raven, o Ancient Mariner, Sonetos de Shakespeare e mais outras coisas que me interessaram. Tirei cópias até de um livrinho Modern Poets da Penguin com poemas de Corso, Ferlinghetti e Ginsberg, isso em 1997 e guardo comigo, leio ate hoje.  Penso que o direito de cidadão do mundo de estudar outras linguas deve ser garantido  e oferecido de forma pública e gratuita pelo poder público, em centros de língua nas escolas estaduais. Não é luxo nenhum.

Tom Waits e sua aparência bendita me faz lembrar muito do Jorge Mautner, do próprio Careqa e outros no Brasil. Mas não é só porque ele e o Mautner tem um diálogo com os beats, por exemplo, que eu vou bajular, babar ovo ou procurar aprofundar me entendimento. Eu encontrei um discão dele na época da Red Star ainda na Lacerda Franco, o "Heartattack and Vine", de 1980. Escuto muito este disco. É bom pacas. O Rui sempre curte ele quando vem em casa e até já pediu a capa, um jornal. Depois encontrei o Franks Wild Year por uma bagatela de 5 reais, e mais pra frente, dois discos de mp3 com toda obra do cara.

Mas o que me agrada no Tom Waits não é nem de longe a sua rouquidão. Nem o seu arquétipo de bêbado com megafone nos shows. Até avalio como muito legal e distinto, mas não sou do tipo que se contenta em avaliar só a estética de palco, os seu trejeitos, os arquétipos e estereótipos, principalmente a rouquidão.
A voz rouca torna incompreensível algumas passagens de algums de suas letras. A não ser que você acompanhe com as mesmas. Não tem encarte, mas eu tive todo o saco do mundo para ficar procurando na internet para seguir e entender o que ele diz. Até já imprimi, mas não é a mesma coisa do que entender só ouvindo. Rouquidão por rouquidão, eu prefiro a do Louis Armstrong. Ao menos, o que ele canta é compreensível.

Foi uma surpresa na última quarta feira quando eu fui ver outra coisa no Sesc Consolação, peguei duas ou três versões, entre elas, "Boa noite, Matilda" que o Carlos Careqa está fazendo de suas músicas em português, "à espera de Tom". O seu último cd, que a Cléia já havia adquirido no ano passado e quase furei de tocar. Ao menos, assim dá pra entender sem ler um pouco o universo waitano. Ficou muito boa a versão de Chocolate Jesus, que ele transformou em "Guaraná Jesus". O Guaraná Jesus é uma marca de refrigerantedo Maranhão, é rosa e foi inventado por um Quimico. Eu tenho um Guaraná Jesus em casa. A coca cola, não podendo competir, comprou o Guaraná Jesus do Maranhão. Algo como as igrejas de mentirinhas que vendem a mercadoria de Jesus. Ficou interessante a adaptação. Gostei também da "Jersey Girl", que virou Garota de Guarulhos e Ruby´s Arm virou "Pro meu Rubi". Estas são do disco Heartattack and vine, do Waits.

Não gosto de agluma coisa só pela aparência ou só porque faz referência a algum movimento ou moda. Não passo por cima das coisas sem entendê-las verdadeiramente, e a fundo, não na superfície. O que gosto do Waits é a sua relação com a razão bêbada, a embriaguês como prova da existência, aquela  situação em que você está torto de bêbado, breaco, se arrastando, e se dá conta de sua mísera situação, se vê como um trapo velho arrastando seu imenso corpo mamífero animal. O cara retoma o existencialismo cartesiano "Bebo, logo existo", tudo em canções que demonstram a bebedeira como prova da existência, e principalmente Kierkgaard e Heiddeger em canções como Anywhere I lay my head, do Rain dogs, mas especialmente o Heartattack and vine. Tudo num universo de botequins e cabarés fuleiros, quando se mostra o coração de  sábado à noite.

Vale a pena ler estes artigos para entender um pouco desde universo:

Tom Waits, o otimismo de um cínico:

http://www.revista.agulha.nom.br/ag1waits.htm

A metafísica de botequim (esse é fantástico, relaciona Kierkgaard, Heideger e Sartre ao disco Heartattack and vine):

http://www.oindividuo.com/convidado/martim37.htm



Eu é que não me sento /no trono de um apartamento/ com a boca escancarada, cheia de dentes/ esperando a morte chegar... (Raulzito, Ouro de tolo)

Sim, com certeza, ela chega para todos, independente da posição, profissão, quando menos esperamos.

É a única certeza matemática, a única crença que levo comigo. Mas é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte. Só teme a morte e procura algum sentido, seja criando um Além, ou um Deus, seja o cristão, muçulmano, judaico ou o Nada budista.

Só que nós, os fortes, os cheios de vida, de amor pela vida, pela transformação e mutação das coisas, não temos tempo de ficar pensando quando ela nos levará. Enquanto isso, procuramos ocupar nosso tempo fazendo um bocado de coisas, mais que ficar escrevendo e pensando no fim de tudo. Ainda que isso seja apenas um consolo, um passatempo para o inevitável. Mas ela chegará sem fazer alarde.

*

Sei que quase a uma década emudeci minha escrita. Foi um processo um tanto que natural, mas hoje entendo melhor, sem forçar a barra. Porque poetar não é escrever coisas complicadas, difíceis ou encher a página com floreios carregados ou o que chamo de rebuscados como uma masturbação, mas não vividos, sem o critério da prática e da experiência.

Eu sempre considerei mais o gesto e o toque como poéticos, e é isso o que importa, atitude, ações, práxis, e não verborragia. Quando precisar prostituir meus versos, o farei novamente, mas por prazer da alegria de compartilhá-los, nunca apenas por questão de sobrevivência, rotina, ou obrigação de alimentar-me. Pois a palavra não coloca nada em mim. Sou eu que coloco no rabo dela.

Concordo com o que diz o Cláudio Willer, e sempre venho escrevendo isso aqui, não tô preocupado em escrever bem, como alguns pensam que escrevem:

"A palavra

vocês não entenderam nada, vocês não sabem nada
poesia não é querer escrever bem
poesia é o que eu ainda irei relatar em prosa
poesia é o que ainda pretendo escrever
para depois reler e dar risadas, imaginando o espanto de quem vier a ler o que escrevi"

" é preciso parar de ter medo das palavras"

Nenhum comentário:

Seguidores

Pilotando a banheira do Manoel nas dunas

Pilotando a banheira do Manoel nas dunas
seguindo após Pitangui até Muriú-RN

Tatoo you

Tatoo you
Woman of night; Strange kind of woman; Lady in black; Lady evil; Princess of the night; Black country woman; Gipsy; Country Girl

Caricatus in 3X4

Caricatus in 3X4

Outra caricatus

Outra caricatus
Desenhista do bar e restaurante Salada Record

Mix, podi mandá "uma" aí?