segunda-feira, 3 de agosto de 2009

2001: uma odisséia até Natal

Como ficarei fora do ar até sexta-feira em um Congresso Nacional, sem muito tempo para fazer acessos e publicar minhas marolas, segue o início da Odisséia até Natal Já fiz outras por Minas Gerais, que ainda não contei, até o Vale do Céu, em São João Batista do Glória, até Ouro Preto, passando por Belho Horizonte e voltando até São Sebastião do Paraíso, e também até Carrancas, vila rodeada por cachoeiras. Mas a odiséia até Natal foi a mais longa. Também fiz uma vez de Natal até Brasília, cruzando de ônibuso sertão potiguar, o paraibano e na Bahia cruzei a partir de Jacobina a chapada diamantina.
Eu prometi, estava devendo, agora começarei a cumprir aos poucos. Segue.



Decidiram fazer uma viagem incomum. Juntaram as roupas, a comida, colocaram tudo no carango, um fiatinho que está pra lá de velho. Partiram, e já era tarde para partir naquele dia. Ainda que fluíssem pela rodovia Dutra, que liga São Paulo ao Rio, flutuando nas quatro rdas e no pensamento ao som de uma Space Trucking. Ao passar após o Vale do Paraíba, em Cachoeira Paulista, um dos pneus do carro esquentou e soltou o conserto ou remendo mal feito por um borracheiro mal dedicado ou que não gostava de seu ofício. O cenário de um rio que acompanhava a via dutra fazia o fundo. Alguém avisou que rodavam com um pneu baixo. Parou no acostamento para trocar o pneu por um serviço pago, mas mal realizado.
Retirou o macaco do porta-malas no qual ficava preso e resolveu trocá-lo pelo estepe. Só que, ao suspender o carro, o macaco estalou e quebrou-se o seu parafuso.
Foi lá sua chance, pensou. Agora, além do pneu furado, tinha um macaco quebrado. É nessas horas que se pode fazer mais um pouco e pensar.
Ele teve uma idéia repentina: se o macaco havia quebrado, tinha que imitá-lo. Começou a fazer macaquice, pular no acostamento, para pedir ajuda. A sua companheira rachava de rir, quase mijando nas calças.
Ele imitava um macaco na via Dutra, mas os carros passavam a milhão por horas. Nem sinal de alguém parar. Foi a vez do primeiro carro ser solidário com aquele macaco e parar:
- Por favor, vocÊ pode me ajudar? Meu pneu furou, fui consertá-lo e o meu macaco quebrou!
-Infelizmente não posso meu amigo. O meu macaco está lá atrás, sob o caixão e estou atrasado para ovelório.
Quando nos viramos e olhamos para a parte traseira do veículo, reparamos que havia um caixão, coroa de flores e um defunto lá dentro.
Bom, agradecemos do mesmo modo por ter parado, mas tive que continuar com minhas macaquices, uma vez que o agente da funerária não podia nos ajudar. Até que um senhor com seus filhos resolveram parar.
A princípio, como um monte de gente que passou a milhão, temiam por um assalto. Mas logo viram as reais intençõese a troca rápida e experiente do pneu pelo motorista, que destarrachou e tarrachou rapidamente o estepe no lugar do furado.
Nessas alturas, o primeiro dia de viagem já estava sugerido. Sua companheira sugeriu que até o final do dia chegássemos ao Rio De Janeiro, em Niterói, e passássemos na casa de uma amiga sua para que dormissemos por lá, em Teresópolis, nas Serras do órgãos, onde fca o dedo de deus. Tomamos um vinho, lá tinha lareira, pois é muito frio, e fomos dormir, para podermos partir na madrugada, pois a Odisséia estava só começando, e queríamos atravessar o Espirito Santo e chegar até a Bahia no dia seguinte.



Acordamos, tomamos o café na madrugada ainda escura. No carro tinha um toca fitas. Eu mandava sem pestanejar um Charlie Parker ou um Jon Coltrane, ou mesmo os solos de contrabaixo rabecão agoniados de Scott La Faro. Mas ela não se aquietava enquanto eu não arrumasse aquele pneu furado que estava agora o lugar do estepe. Parei num desses de beira de estrada. O cara falava em gíria, coisas como maneiro, ele fez um rolo comigo e consegui sair com um macaco novo, desde que eu lhe desse o antigo.
SEguimos em frente na viagem, curtindo milhares de vezes as mesmas fitas k7 que rolavam durantes as milhas a perder de vista. A impresão era de que os montes laterais, comum na paisagem carioca e um pedaço do Sergipe nunca desapareceriam
Foi uma beleza passar pela rota do sol de Vitória, pela ponte de Vila Velha. Só me lembro de uma beleza de uma Praia em Meaipe ou Guarapari e um capixaba de origem paraíba nos oferecendo uma moqueca para almoçarmos, no meio daquela brisa. Fomos conversando com o chapa, que era muito gente fina.



Logo após seguimos viagem, uma vez que sabiamos que o caminho era longo e os dias curtos, ainda nem chegáramos até a Bahia. A noite vinha logo chegando, e com ela as rugas de preocupação da Cléia. Ela não gostava de caminhões, por batidas no passado que nos arrastaram. Conseguimos uma parada na última cidade capixaba, chamada Pedro Canário, que tinha um tom holandês, estrangeiro.
Entramos em uma pensão, reconheci um velho amigo nela. Ele logo me reconheceu, pois era funcionário de uma escola aonde estudei, e tava fazendo o trecho numa Van com seus amigos. Conversamos um bocado. O lugar, a pensão era tão gente boa o dono até cedeu uma garagem de improviso para ofiatinho não passar a noite fora. Saímos famintos naquela cidadezinha, pacata, com uma igrejinha que vimos ao caminhar. Tomamos umas cervejas, fizemos um lance e fomos dormir. Logo cedo encararíamos mais estradas, mais chão pela frente, chegaríamos na interminável e triste Bahia, cujas léguas não teriam mais fim.



Acordamos cedo. A pensão era tão hospitaleira, tão barateira que ainda garantia um café pela manhã. Tinhamos que partir de PEdro Canário, pois a Bahia nos aguardava, e era muito chão pela frente ainda.
O caminho era muito diversificado em termos de paisagens. Nas margens da estrada, a Bahia te muitas Jaqueiras, que tentavamos pegar, mas haviam fossos entre nós e as árvores, o que tornava tudo mais dificil. Também, era o que mais se vendia na beira da estrada, junto com mangas e outras frutas regionais. Havim morros, subidas e descidas.
A fitoteca ia rodando com a maior intensidade, só lembro de rolar um Mob Rules numa descida cheia de árvores, Aqualung e outras coisas boas. Passamos por Vitória da Conquista, entre outros lugarejos. Nossa maior admiração eram alguns montes, pascais ou não, que observávamos nas proximidades de Porto Seguro, onde quinhentos anos antes aterrisaram os brancos marcianos que massacrariam com armas de fogo, espada e doenças os nativos da terra brasilis.



Porto Seguro é cheia de casinhas coloniais, ruas de pedra, algumas ocas em que nativos expõem artesanatos. Um pouco ants da cidade, na estrada, também encontramos estes nativos vendendo panelas de barro. Curtimos um pouco a beira mar, demos um tempo, resolvemos ir embora no final da tarde, pois ainda havia uma distância de 30 km até a rodovia, e a grande preocupação da Cléia com os Caminhões. Seguimos a viagem,sempre com muita áqua disponível. Foi escurecendo, os caminhões aumentando, eu querendo ir um pouco mais distante, pois logo iria uma cidade grande, e a Cléia querendo parar.
Entramos em um vilarejo, tiha uma pesão, ela quis que eu parassel logo ali. A cidadezinha era um povoado. Não havia mais que três, quatro ruas. Nada de dinheiro, tivemos que racionar. istalamo-nos num sallon. A recepção tinha um senhorzinho mal humorado, queria todo pagamento adiantado, atrás de um balcão com muitas listas telefônicas amarelas e mofadas. Colocamos o carro na garagem, que era a sala da pensão. Ao vermos o quarto, era muito simples, mas grande. A surpresa foi ver o chuveiro, cheio de teias de aranha. REsolvi tirá-las, com um rodo que estava à mão. Só que a tragédia é que caiu sobre a Cléia, o que rendeu alguns gritos. Fomos atrás de um lanche, e depois fomos dormir com um olho aberto e outro fechado, pois o medo da Cléia com os insetos era enorme. Logo cedo, antes do sol raiar e ele sai cedo no nordeste, estávamos de partida, para passar por Itabuna.



O quarto dia nos trouxe a recordação de que já havíamos feito um outro trecho mais adentro da Bahia, só que de ônibus. O povo trabalhador que vai para o Nordeste constuma levar um monte de caixas, sacolas, até colchões no porta malas e mesmo no ônibus. SEntamos lá no fundão, quando passamos depois de Vitória da Conquista, ou Feira de Santana, lembramos que passamos o Natal na estrada daquela vez. Foi uma felicidad, todos se cumprimentaram e dividiram aquele banquete dos mendigos. MAs isto foi outra história. Ao passarmos daquela vez em Salvadr na casa de Lúcia, a prima de Cléia, conhecemos todas as praias, pois ficamos uma semna em Salvador. Pegamos a balsa, fomos à Itaparica, também, entre outros diversos locais.
Desta vez, na viagem, precisávamos sair cedo, e lgo minha tese foi comprovada que estávamos a poucos quilometros de uma cidade grande, Itabuna. O medo de Cléia a fez dormir preocupada com insetos e teias de aranha, deu uma oportunidade de tirar um barato até lá na cidade, onde paramos para abastecer.
Chegamos muito cedinho na cidade, haviam poucas pessoas ns ruas. Descobri que lá há um racismo invertido, pois uma mulher negra escasquetou de pensar que nós estávamos preocupados porque ela estava em nossa cola. A população de negros na Bahia fez acreditar sim, no mito da democracia racial no país. Eu nem a tinha visto, e ela começou a maledizer, mas eu e minha nega nem ligamos.



Voltamos para a pracinha em ue tinhamos deixado o carro parado. Faltava pouco para atingirmos nosso destino. Valença, uma cidade porto, havia vendedores de jaca e manga por todas as ruas. Abraçamos logo uma jaca inteiro, e ela estava durinha, para nossa sorte, pois estava muito calor. Fomos mandando ver devagar, para o papo, e seu cheiro logo impregnou o carro. Partindo de Valença, havia um esquema de barcos que nos levariam até Morro de São Paulo, uma ilha que tinha função de forte no passado, na disputa da Colônia entre Portugal e França e Holanda no século XVII. Pegamos a embarcação. Aqueles travessias de barco são muito boas tem uma vista belíssima. Eu logo lembrei-me da balsa de Itaparica da outra vez, em que uma cigana começou a ler minha mão e praguejar por alguns trocados. Chegamos. Lá era muito bonito, pessoas muito bonitas, negras, coradas de sol, surfistas com parafina nos cabelos, a areia escaldante naquele quase meio-dia. Resolvemos alugar um quartinho por um pernoite e ficar naquela maravilha. Achamos um com um gringo, ele estava bem num canto próximo da praia, tinha uma beliche e um banheiro, bom demais para nossos modestos objetivos e barato demais também. Alojados, fomos conhecer a ilha, os canhões remanescentes da época colonial e tudo mais que tinhamos direito. A noite chegou, muito constante, mas muito cheio de turista e gringo também, restaurantes caros dominando a parada e feiras de artesanato. Valeu pela boa dormida. No dia seguinte, acordaríamos novamente cedo, pois tinhamos que colocar sebo nas canelas, queríamos superar a Bahia, ainda havia muito chão pela frente.


Morro de São Paulo

Saltamos logo cedo de nosso abrigo por uma noite, pois tinhamos que pegar a balsa logo cedo, só sairia uma horas depois. O carro havia ficado lá em Valença. Continuamos acompanhando aquela estrada e Mata atlântica, com rios e voçorocas ao lado, algumas vezes. E muitas jaqueiras pela estrada. De Valença a Salvador não é muito longe. Desta vez, avaliamos como melhor meio de atrvessa Salvador seria por meio da balsa. Lembrei da outra vez que estivemos ali, dos diversos acarajés e aquela moqueca de siri que comi nos promeiros dias, e passei mal a ponto de fiar com diarréia, não conhecer Itapoã no último dia e sair tomando soro no ônibus na viagem até Natal.


Salvador

Ao cruzarmos Salvador, pegamos outra rota do sol, ou via verde, já ao norte de Salvador.A Bahia é um trem que não acaba nunca, é muito grande, não tem fim, e a noite já estava chegando e a Cléia se desesperando para variar. Eu falei que or ali nem haviam caminhões, pois era proibido rodar por ali. Passamos por uma placa mal colocada, proposital, e acabamos pegando uma pista secundária, uma estradinha quase de terra, de tanto buraco que havia, era mais buraco do que pista. O desespero dela foi tanto, estávamos no meio do mato na Bahia, escuro, mas possuia algumas casas., fomos perguntando, haviam alguns matutos que se assustavam conosco passando por ali. Chegamos até um povoado, as coordenadas que pegamos deram certo, estávamos no meio do caminho: em mas 10 km estaríamos na primeira cidade de SErgipe.
Chegamos na primeira pousada que vimos, ao lado de um posto de gasolina. Um senhor muito hospitaleiro, era como se fosse nossa casa. Mandou ver uma cerveja, e foi colocar duas macaxeiras cozidas e carne de sol e farofa. Fartamo-nos, assistimos um pouco de TV, proseamos com um caminhoneiro que estava pra lá de rebitado, louqinho, escutandozunidos no ouvido. Ele disse que na data em que saímos, ele já havia ido e estava voltando do Nordeste ao Sul. Aconselhamos ao sujeito para que dormisse um pouco e não seguisse viagem, e foi o que ele fez, foi para o seu quarto. De tã oquebrado que ele estava, nem levantou no horário. Logo cedo, pela manhã, já estávamos de pé e prontos para seguir nosso rumo.


Ilha de Itaparica

Despedimo-nos de nosso simpático, receptivo e hospitaleiro dono da pusada. Enchemos o tanque naquele posto, daria um problema, saimos cedo e tinhamos como meta cruzar aqueles estados pequenos e chegar até Natal até a noite.
Antes mesmo de clarear jáestávamos na estrada. Na terra do Dedão. Pelas placas e botecos que passamos com faixas, sacamos que haveria uma micareta, um carnval fora de época. Cruzamos pelo semi-árido, era longa a estrada por onde só se via xique-xique, pedras e terra árida. Alagoas chegou rápido, nã havia muitas diferenças na transição de um para o outro estado. Apeasao passarmos peas praias, pude reparar que o mar de l´é bem azul, diferente dos outros estados, em que é mais esverdeado. Tomamos um café na beira mar, vimos a praia dos Franceses na estrada, com um pouco mais de verde, passamos pelo Quilombo dos Palmares onde zumbi e os rebeldes se refugiaram, trazendo a esperança de mais liberdade.
Ainda passaríamos por Pernambuco, em qu já havíamos passado da outra vez, só que de ônibus, pela Feira de Caruaru, por Jaboatão e próximo de Garanhuns. No recife, demos uma volta por dentro da cidade, passamos perto do Capibaribe, paramos um pouco em Boa Viagem, lá costuma ter ataque de tubarões, e acabamos por almoçar em Olinda.
Dali em diante, só faltava atravessar a Paraíba, que nós já havíamos passado da outra vez de ônibus, só que por Campina Grande.
A Paraíba era nssa velha conhecida. Até um carnaval fora de época, chamado Micaroa,´nós já pegamos por lá, em João Pessoa. Também já passeamos por tudo quanto é canto, a cidade antiga, pela Ponta do Seixas, pois a Cléia tem uma família grande por lá. Fomos na praia de Jacumã, andamos de bugre com um primo de la e sua mulher e filhinha, fomos na praia do Jacaré, nas beiradas do Paraíba ,ver o por do sol ouvindo um saxofonista tocar o Bolero de Ravel. Até pela praia Tambaba, no passamos da outra vez.
DE João Pessoa até Natal restavam apenas duas horas e meia. Nós estávamos terminando nossa Odisséia. Já estava escuro, por volta de sete, sete e meia, os olhos da Cléia já começavam a brilhar. No Rio Grande do Nrte, conhecíamos já todoas as praias do Sul do EStado, desde Tibau, passando por pipa, tomada de gringos, cheia de pedras, não curto nada, só ver golfinhos. Fora o Cajueiro, enorme, maior do mundo, Nisia Floresta, entre outras, praias. Mas quando chegamos a noite, na casa dos pais da Cléia, a felicidade era geral.
Logo iríamos passear para conhecer outras priais do norte potiguar, as melhores, como Zumbi, Touros, São Miguel do Gostoso, Galos, Galinhos. São as melhores de todas na ponta do Brasil. Ainda viajei de carona para Macau, para ponta do mel, depois de Mossoró.

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