
Encontrei mas algumas coisas que fiz, no meio dos livros. Eis ai alguma mostra delas. São algumas tentativas de haicais, esta arte que dominava muito bem o Leminski, o polaco-curitibano-louco-lutador de judô e ainda por cima trotskista e sua companheira Alice Ruiz, e também da Teruko Oda ou de uma Olga Savary também.
Que depende muito do desprendimento do eu, do ego, deste racionalismo embotado em que estamos e muitos se deixam tomar: o personalismo. Muita síntese, conseguir objetivar, traduzir um imagem. Devemos sair deste nosso egoísmo e nos projetarmos para fora, expandir-nos em direção ao Mundo e ao Outro. Afinal, "o caminho mais pra fora é o caminho mais para dentro", como diria o pai do haiku, Bashô.
Tem outras coisas que, embora antigas, continuam valendo atualmente.
Não acho grande coisa, nunca achei. Nunca tive aspiração à perfeição. Só quis escrever e escrevo: nunca me submeti ao ponto de "pedir licença" ou autorização para alguém ou uma camarilha "supostamente melhor" para escrever. Ponto final.
Nisso concordo com o que diz o velho Ulisses Tavares, da Editora Pindaíba: não peço licença "aos feudos dos suplementos lítero-compadristas “(do tu me citas, que eu te cito”).
Seguem alguns hai kus urbanos:
Lugar asfaltado
tempo de chuva vai e vem
um grilo a cricrilar
*
drosófilas filam
os frutos oferecidos
fruteira natural
*
formigas famintas
exércitos de Davis
levam a geléia
comida com pernas
dezenas centenas delas
sobem paredes
*
chuva na calçada
um caldeirão borbulhante
fervendo no chão
24 e 27/9/1998
I
sacos e caixotes
noite úmida paulistana
mendigos nas ruas
II
nas ruas paulistanas
primavera úmida e cálida
e o lixo humano
29/10/1998.
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