Às vezes é bom sumir daqui. Quando estou sumido, o sinal é bom, porque estou mandando ver. Quem escreve demais ou não faz nada ou exagera um pouco mais na imaginação, inventando as coisas por ficar escrevendo, não tem tempo de viver. Reparei isto faz tempo. São a classe ociosa, parasitária, isso é assim desde os escribas do Egito até um monte de burocratas hoje em dia. Sou mais um incendiário, mais um jogador de coquetel molotovs do que um escrevinhador. Prefiro estar lá, no centro, no furacão das coisas, no vórtice dos acontecimentos, jogando pedradas nas vidraças, ao invés de ficar contemplando e inventando histórias que nunca existiram. Nada contra o platonismo, mas prefiro comer a maçã do que ficar admirando sua idéia. Prefiro estar mandando bala na agulha, correr o risco, suar a camisa, do que ficar apodrecendo e vendo o tempo passar.
Ah se eu não gostasse eu já teria parado. Só escrevo mesmo de pirraça, quando não tenho nada para fazer ou estou pensando no que fiz. E nem estou preocupado em escrever pra agradar alguém estou pouco me lixando, pois só escrevo pra aliviar os meus nervos mesmo, e para poucos. Eu sei que isto é para os fracos, desistir cedo. Por isso que insisto. Bem que tentaram me comprar, mas nem de longe conseguiram. Ainda hoje tentaram, com telefonemas tentadores, mas eu não me rendi. Eu gosto mesmo de ser um estrategista, eu gosto de ver os outros balançando e se coçando, com pulgas atrás da orelha, para saber com nós conseguimos fazer as paradas sem ter nenhuma grana. Tem gente que fica muito incomodada com isto, e consigo achar muita diversão. E ainda por cima oferecemos as melhores idéias e propostas.
Nem estou preocupado ou estou falando que os outros devem fazer o mesmo que eu faço. Nem pesar, nem de longe. Tem que ter muito saco e predisposição, e se foder legal. Não tem graça nenhuma. Platão e Aristóteles diriam que tem que ser um pouco louco. Um bocado dionisíaco. Sempre vejo todo mundo tirar o seu da reta, mas como cabra macho, sei que alguém tem que meter a mão na merda e bancar algumas coisas. Na maioria das vezes, acabamos por nos atolar todinho nela, pois ninguém tá a fim de levantar a bunda da cadeira até mesmo para seu próprio benefício.
Já perdi a conta de tanto tempo que nem vou em dentista ou oculista, e não tem nada a haver com falta de grana, pois sempre se dá um jeito, tem o SUS no Hospital das Clínicas ou o servidor público estadual. Você acaba se esquecendo destas paradas, as coisas vão passando, nem sou nenhuma Amélia, tenho minhas vaidades, mas a vida não se resume a elas. Ainda assim sou bonitão, estou por cima da carne seca. Que manja das coisas sabe consegui-las, sabe conquistar a parada, tem o dom de negociar, consegue sempre algo mais do que pede, sem dar algo a mais por isso. Um bom barganhador, pois todas ganham também com isso.
Só passo nos botecos de pirraça. Prefiro ir, ao ver os outros escrevendo sobre eles. E mesmo no lazer, ninguém é de ferro, tenho que ver minhas músicas de vez em quando. O que eu gosto e quando dá tempo, tô lá na fita. Prefiro estar nos balcões, nos bancos giratórios de bares de drinks no inferno, ainda que nem seja mestre ou profissional de carreira na coisa. Quem é mestre na coisa tem o direito de enrolar, eu não. É meu lazer, e o meu lazer é sagrado. Só para tirar uma onda, esquecer e me afundar. E como meu toca fitas tá quebrado, não ando com mp3 ou qualquer coisas destas, eu tenho um toca discos na cabeça que toca John Coltrane, Billie Holliday, Charlie Parkie ou um solo de baixo do Scot La Faro. Ou mesmo um Santana e John Sebastian, que ouvi lá em Embu das artes neste final de semana.
E eu estou sacando cada vez mais
sobre Iansã Oxossi Ogum
por conta do meu amigo
Eu vou ouvindo Fela Kuti
e dançando ao som de atabaques
minha proteção buscar
não vou mais de peito aberto
REBENTOS DO CELSO: Poemas, causos, memórias, resenhas e crônicas do Celso, poeteiro não-punheteiro, aquariano-canceriano. O Celso é professor de Filosofia numa Escola e na Alcova. Não é profissional da literatura, não se casou com ela: é seu amante fogoso e casual. Quando têm vontade, dão uma bimbadinha sem compromisso. Ela prefere assim, ele também: já basta ser casado com a profissão de professar, dá muito trabalho. Escreve para gerar o kaos, discordia-ou-concórdia, nunca indiferença.
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