sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Jogos de moleques


Foto de Mai 1989, de alguma festinha, pois estávamos vestidos um pouco melhor - Direita pra esquerda: Jefferson, Pinico, Jorge, Fábio, eu, (os debaixo, que me deixavam apanhar sozinho: Fabinho, Carlitos e Douglas)

 
Nós éramos o terror da vizinhança. As velhas senhoras e senhores nos odiavam, tratavam-nos como moleques desordeiros, na rua aprotávamos de montão. Havia um portuga de meia idade, este era o mais mal humorado. Certa vez ele pegou a bola de capotão com que tirávamos nossos rachas e deu uma bica pra bem longe. Só por causa de nossa inocência e ingenuidade. Ela várias vezes batia nos portões das casas, pra raiva de muitos, pois os portões eram nossas traves e gols. Geralmente os nervosos conosco eram os que menos se socializavam nas festas de rua que costumávamos fazer, festas juninas.

Todas as questões da rua eram resolvidas nela própria. As divididas das peladas de futebol, as pernas que torci ou quebrei, os arranhões, machucados, levávamos para nossa casa. Mas todas as brigas ficavam lá, e logo estávamos conversando novamente. Cuzão era quem a mãe intervinha ou quem ia contar. O dedo duro levava umas coças e era tirado ainda se contasse sobre alguma arte que aprontássemos. Como a vez que um colega subiu num telhado de amianto de um vizinho pra apanhar uma bola e acabou despencando junto com um pedaço da telha. Todos ficaram com as bocas costuradas. Era uma cumplicidade de ferro no crime.

Às vezes, jogávamos também taco. colocávamos umas latas de óleo ou armações de madeira, as bases, e jogávamos com uma bolinha de borracha. Ganhava quem mandava a bola pro inferno e corria até a base do inimigo algumas vezes. Era tudo tão inocente, desde as brincadeiras de esconde-esconde pela rua de baixo, em um caminhão sempre estacionado por ali, na esquina. Apanhávamos algumas goiabas no terreno da petrobrás, uns terrenos baldios que propiciavam alguma fuga ou alguns moleques corriam riscos, como o fabinho japonês, que foi perseguido por um tarado com a benga na mão. Brincávamos de mãe da rua, cada macaco no seu galho na frente de casa. Muitas gurias eram nossas paixões, pelo que aprontávamos, e também gostávamos de umas pencas.

Éramos as gangues das ruas, formávamos e deixávamos nossas marcas e sinais nas paredes das redondezas. Encontrávamos para festinhas e bailes noturnos. Só até alguns dedo-duros nos estregarem e cortarem nosso barato.


Foto na Cachoeira das Emas, Pirassununga-SP

Os mergulhos na lagoa azul também eram apenas para aqueles que eram durões, que tinham culhões de pular. Sempre fui dividido entre o urbano e o rural até certa idade, meus tios maternos ensinaram-me brincadeiras, como armar arapucas, rodar pião, jogar bolinhas de gude no quintal do meu avô. E também ensinaram-me a nadar na Cachoeira das Emas, na cidade vizinha de Pirassununga-SP. Na cidade grande eu também me aventurava com carros de rolimã na descida, pipas, entre outras bicicletas mais urbanas.

Mas nadar era algo ligado ao rural. Sempre curti mais nadar em lagoas, açudes, rios ou mar do que em piscinas. Sempre foi mais excitante e arriscado, dai eu curtir mais. No caso do lago azul em Casa Branca, eu tinha maior coragem pra encarar os pulos do altão. Haviam três níveis: o razinho, o médio e o altão. Só valia todo esforço de ralar pra chegar lá de bicicletas se fosse para pular do altão, ouvir o zunido do próprio corpo caindo pelo ar até se espatifar no poço de água lá no fundo. outra coisa doida eram as escaladas e o jogo de equilibrista por paredes finíssimas das boçorocas. O menor vacilo, levaria ao chão, ao hospital, ou quem sabe, à morte. Era muito sangue frio e cabeça fresca. Só para os mais loucos.

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