REBENTOS DO CELSO: Poemas, causos, memórias, resenhas e crônicas do Celso, poeteiro não-punheteiro, aquariano-canceriano. O Celso é professor de Filosofia numa Escola e na Alcova. Não é profissional da literatura, não se casou com ela: é seu amante fogoso e casual. Quando têm vontade, dão uma bimbadinha sem compromisso. Ela prefere assim, ele também: já basta ser casado com a profissão de professar, dá muito trabalho. Escreve para gerar o kaos, discordia-ou-concórdia, nunca indiferença.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Trechos em Minas
Os caronas nunca desanimam frente às dificuldades. Certa vez, nos metemos numa viagem, ela passava pela Fernão Dias, e o mais curioso foi que fomos com um casal de amigos, a Bibiana e o Alexandre, e tinha também o seu bebê. Cortamos os pedágios pela Fernão dias, até o Circuito das Águas e adentramos o das malhas, em Jacutinga, e já em minas chegamos em Ouro Fino, Monte Sião, entre outras da região. A viagem era só regada a alambiques e doses de pinga, estrada de terra, sendo que uma delas era um barro só molhado que o carro quase atolava e deslizava o fiatinho véio de guerra.
Aquele pedaço de Minas Gerais ficava bonito à noite, era uma céu estrelado em Guaranésia e em Muzambinho, em Guaxupé, mas a viagem já tava se prolongando a beça, por meio do mato e pela estrada de terra. O guri até deu um vomitão no banco de trás, pra entrar pra galeria dos vomitões. Quando chegamos a Passos de Minas, resolvemos dar uma espichada. Lá era bom que só vendo, muitas mineiras bonitas fazendo bico de garçonete nas férias da faculdade, muita prosa no bar da cidade central, que resolvemos ficar por ali mesmo numa pensão e tomar uma. Na manhã seguinte, faríamos com o casal o resto da viagem até o Vale do Céu, em São João Batista do Glória.
O Glória é um lugar muito bonito, com um poço para mergulhar, dar uns pulos e sentir calafrio na barriga. A Distância até a queda na água é considerável. É de fato um vale próximo do céu. Na virada do ano, passamos com o garrafão de vinho e fizemos arroz com a água da cachoeira, e abrimos umas feiju em latas. Foi a melhor virada dos últimos anos. Cedo eles preparavam um pão de queijo muito gostoso naquele barzinho do dono das terras, que servia o café da manhã.
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Houve certa ocasião que corri um trecho solitário até Carrancas. Desci em Lavras, e o resto foi ou na bota ou em caronas. Lavras à noite é muito bonita, uma noite tranquila, com aquele cheiro de mato molhado e de chuva no ar. Eu estava partido para encontrar uns camaradas acampados em Carrancas, uma cidade minúscula, mas rodeada por mais de duzentas cachoeiras que tentamos ir na bota, mas algumas, só de carona mesmo. A partir de Lavras, peguei a estrada a pé, aquela que vai dar em São João del Rei. A estrada estava escura. Consegui uma carona até de manhã, para entrar na porta da vila que dava para o único ônibus pra Carrancas. Chegando lá, eu topo logo pela manhã com um casal de amigos. O ônibus já tinha partido. Pegamos a estrada, que era muito bonita, de pedregulhos e areia batida. Foi muito bom encontrar com um senhor, uma figura. Ele dirigia uma brasília que não tinha freios, mas como estavamos mangueando e ficamos sabendo depois que estávamos dentro, isto não tinha muita importância. Só na hora da Serra que a coisa complicaria. O importante foi chegar lá e assar um pouco até despelar em Carrancas, curtindo as cachoeiras e a noite da cidade.
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O busão que me levaria até Ouro Preto viajaria à noite. Levei minha garrafinha de cachaça, um livro do Bakunin e outro do Reich na mochila pra me distrair em alguns momentos. Logo pela manhã, eu chegava na terra dos arcadistas, de Dirceu, de Gonzaga, regado a pingas amarelinhas de alambique e muito Aleijadinho e Atayde na visão. Foi uma curtição solitária, de andar por todas aquelas igrejas barrocas, cheias de ouro. À noite eu subia até a igreja mais alta com meu copo de pinguinha de alambique, ficava degustando a paisagem e reparando na névoa que caia sobre a cidade. Conheci de tudo mesmo, até as pensões, comia tutu, bisteca de porco, couve, que conseguia nuns lugares baratos. Eu fui até Mariana, naquela Igreja do órgão, aquela que pegou fogo.
Tive de ir até Belorizonte para poder voltar pro interior de São Paulo, até são Sebastião do Paraíso. Tive como companheiro de conversa de funão de ônibusum rapaz mais novo, ele foi conversando sobre os livros e sobre a guria que ele também tinha deixado lá, daí a razão de sua partida. A minha estava esperando para depois por fim às coisas, e pra eu depois tomar um porre daqueles. A viagem era longa, a noite inteira pra cruzar as Minas Gerais, passando pela represa de Furnas a noite, cheia de luzes e descidas.
Eu ainda teria que dormir naquela rodoviária de São Sebastião até de manhã, não tinha mais ônibus e nem movimento, mais nada, a não ser um pedaço de merda no chão da sala de espera que alguém deixou ali propositalmente. Dormi cabreiro, um olho aberto outro fechado, temendo aprontarem alguma comigo.
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