Vinte anos sem o Exagerado

O que dizer do Cazuza? Embora depois que ele tenha descambado pra outros lances prefiro até os vocais mais bluesy do Frejat, como no primeiro álbum depois da saida do Cazuza, "Declare guerra", de 1986 e em seus trabalhos solo. No entanto, não dá para não reconhecer a importância e a irreverência deste cara, que teve um papel importante pra toda uma geração, do ponto de vista politico e comportamental, no processo de abertura lenta e gradual, colégio eleitoral - eu me lembro até hoje de seguir na TV aquela farsa do Tancredo contra o Malufão, e depois a morte de Tancredo e a posse de Sarney- como vários outros tiveram naquela época dos oitenta. Mas o Cazuza tinha um quê todo especial. Não foi convidado pra esta festa pobre, pois seu cartão de crédito era uma navalha. Pediu piedade para esta gente careta e pra burguesia fedida, já que seus heróis morreram de overdose, e seus inimigos estavam no poder.

Eu me lembro até hoje, estávamos com alguns amigos, bem moleques, voltando de alguma farra, em boçoroca ou em campo de futebol, em Casa Branca, na mogiana, interior de São Paulo. Era Julho de 1990, quando entramos na casa de um moleque, o Murilo, ele morava na rua em que meu tio Tião também mora até hoje, a Capitão Horta. Um dos irmãos mais velhos do Murilo deu a notícia e mais tarde passou na TV. Desde aquela época, eu e um primo meu - talvez até um irmão de leite, o Zé Geraldo -, gostávamos de imitar o Cazuza e o Léo Jaime e todos estes caras de óculos escuros e jaquetas de couro e de brim, fazíamos até os trejeitos cantando "eu to pedindo a tua mão e um pouqinho do braço". A coisa pegou e esse tal de roquenrou ficou para sempre no meu coração. No do Zé eu já não sei, mas do meu, não tive mais como largar.