Taí um pensamento de mestre que me veio à cabeça ontem, quando fui cobrado por não tirar a gordura da pia da cozinha. Também sou um tanto folgado, faço as paradas sim aos poucos, no meu ritmo, mas nem curto ficar dando uma de clean e de mania de assepsia. Gosto mesmo é da vagabundagem e da criatividade dos ociosos, já basta o trabalho que me arranca diversos prazeres, então no tempo livre, quero coisas que me enobreçam, meu direito à preguiça, e não mais malditos tripalium medievais que nos torturavam e ainda nos torturam. Como um bom tarado que sou, prefiro trepar bem, com arte estilo, cair de boca na priquita à desengordurar pias: já basta lavar os copos e pratos e minha roupa, até para engomar tenho preguiça, tiro do varal e já visto. Todo trabalho empobrece o homem e a mulher, ainda mais o doméstico.
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"Lydia gostava de festas. E Harry era um festeiro. Então, a gente se pôs a caminho da casa de Harry Ascot. Harry era o editor de Réplica, uma revistinha. A mulher dele vestia uns longos trasnparentes, mostrava as calcinhas pros homens e andava descalça.
- A primeira coisa que eu gostei em você -me disse Lydia - é que não tinha tevê na sua casa. Meu ex-marido via tevê toda noite e durante o fim de semana todo. A gente tinha até que planejar nossas trepadas de acordo com a programação da tevê.
- Hummm...
- Outra coisa que eu gostei na sua casa é a imundície. Garrafas de cerveja espalhadas pelo chão, montes de lixo po tudo quanto é canto, pratos sujos e uma coroa de merda na privada e a craca na banheira e todas aquelas giletes enferrujadas em volta da pia do banheiro. Eu sabia que você era capaz de chupar uma xoxota.
- Você julga um homem pelo lugar onde ele vive, né?
- É. Quando vejo um homem de casa arrumada eu sei que tem alguma coisa errada com ele. E, se for muito arrumada, eu já sei que o cara é bicha."
Diálogo entre Lygia e Chinaski, em Women
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