segunda-feira, 22 de junho de 2009

Escrevo poemas como as pessoas atiram garrafas pets no Rio Tietê


"Escrevo poemas como atiro garrafas no mar

Escrevo poemas para extrair lágrimas de sangue
Escrevo poemas para extrair lágrimas de riso
Escrevo poemas para pessoas jovens de espírito
EScrevo poemas pensando na beleza da vida
Escrevo poemas para criar a discórdia ou a concórida nunca a indiferença
(...)
Escrevo poemas porque acredito nessa velha puta chamada palavra
Escrevo poemas por não saber fazer sonetos
Escrevo poemas como as pessoas jogam garrafas pets no Tio Tietê
Escrevo poemas como atiro garrafas no mar
Escrevo poemas para você

Sérgio Dedão, 04/08/2005

Assim começa e assim termina o poema do também professor o Sérgio Dedão. O Dedão é um cara que veio de Sergipe. Trombei o cara na terra do Mágico de Oz (Osasco city), em uma atribuição de aulas, em um cadastramento que fazíamos dos professores de Filosofia e Sociologia para o Coletivo estadual que desenvolvemos no Sindicato , e logo depois fiquei amigo do cara em um curso que fizemos nas férias, no mesmo ano deste poema, por volta de Junho ou Julho de 2005.

Excluindo o fato de opções ou orientações políticas que o Sérgio tomou a partir do ano passado, que gerou discórdias. Suspeito que o mesmo aderiu a uma proposta "política" sedutora, a corrente Articulação, produtora do que ficou conhecido como Mensalão no país, talvez por benesses que a convivência com certos lhe traria. Algo que quem me conhece bem de perto, sabe que nunca farei. Ainda asim, respeito sua pessoa e opinião, apesar de discordar (Depois não diga que não avisei no que você está entrando, meu chapa). Éo princípio voltaireano, fazer o que?

No entanto, como pessoas maduras e vivenciadas, vividas, sabem ser amigos ou companheiros sem patrulhar, sem tachar fulano ou sicrano de direitista ou de comunista, sabem se respeitar e conviver bem com as diferenças e até ser grandes amigos, e até comentar seus poemas doidões. (Espero termos superado a visão maniqueísta dos tempos de criança na Guerra Fria ou Ditadura, que se tachava de esquerdista ou comunista, que "comunista comia criancinha", quanto atraso...)

Voltando ao assunto, tirando estes poréns, o cara logo se bateu nas afinidades: uma boa birita, rock and roll e algumas coisas mais.

Este é um dos poemas loucos, de seu universo ateu, nietzscheano, sem a falsa e farisaica moral cristã e a corrosão da metafísica permeiam toda sua obra, sem idealismos de poetas românticos, só a carne & o Sol de Rimbaud, ou recitando:" O peso do amor é opeso do mundo" na Igreja central de Aracajú, regado a pinga com coca e o cheiro da erva exalando no ar.

Tem outros versos que são marcantes do seu livro quase que um Fanzine montado com fotos e ícones, " Queda do requinte", que tive a honra de ajudar a lançar, naquele espaço, o Cultural Grande Otelo, ao lado da Prefeitura de Osasco, que dominamos há uns três, quase quatro anos, para fazer a edição mensal do Cineclube dos Professores de Osasco, que foi derrotada por uma visão apenas mercantil da cultura:


"Poetas, poetas poetas
Não me venham com sua visão romântica sobre sexualidade
Palavras que expressam amor sem carne, não engendram vida"



Ou este da parte da Consciência Social, que ele desce a ripa nos podres da sociedade:



"Assisti prostituta dizer que além de dinheiro, aceitava ticket refeição e vale transporte por uma trepada
Descobri quem come os homes são as mulheres. Ou melhor, é a mulher que deixa-se seduzir e ser saboreada, tudo parte do jogo"



Também podemos ver nos poemas como o Dedão retrata a mulherada, outra coisa que temos muita afinidade nas idéias. Dai seguem dois trechos:

"Rondamos o centro de São Paulo vendo putas, viados e miches, toda diversão girava em nome do Deus
Universal
Único,
Verdadeiro,
Onipotente,
Onisciente e Onipresente:
O DINHEIRO

Paramos em um bar para tomar umas cervejas
Meu amigo sugeriu um lugar astral, onde tinha diversão feminina garantida.
Era uma boate ou "puteiro", como ele gostava de falar.
Pegamos duas cervejas ao preço de dez lá fora e fomos observar as genitálias femininas
Era o paraíso, trinta, digo e me ouçam bem?!
Trinta garotas entre 18 e 28 anos rebolando, só de calcinha e sutiã
Era lindo aquilo, fiquei de pau duro
Aquela visão me trazia uma lembrança
um açouque de carnes.
E eu era um cliente escolhendo
alcatra,
filé,
maminha,
chã-de-dentro e chã-de-fora.
O que elas queiram era uma picanha
E para isso você tinha que desembolsar uma grana, pois, em SP tudo é dinheiro
Tomava minha cerveja e encarava as bocetas de frente
Muito agradável aquela visão, mas aquilo parecia um "mercado de bocetas"
E como sempre preferia comer bocetas sem pagar,
pois
tinha mais emoção e sentimento
na foda."



Ou ainda esse, que tenho uma baita de uma identidade, lembro do que diz a Anaïs Nin: "As mulheres não gostam de serem idealizadas nem tratadas como personagens de romances, assim como não gostam de ser insultadas ou humilhadas." (NIN, Anaïs, A procura do homem sensível, em que ela desmonta os estereótipos de masculino e feminino). É o que eu penso mesmo, só que foi o cara que escreveu, eu racho de rir quando ele recita com gritos esta parte:



"fodam-se todas as poesias que falam das mulheres
puras-perfeitas-idealizadas
Quero a sexualidade multirracial
Quero uma mulher de verdade para meter o pau
Cada mulher tem sua beleza,
sua qualidade
e sua sensualidade
Magra ou gorda
Peituda ou despeitada
Bunduda ou mion
Todas querem ser amadas-penetradas"



Tem mais outros poemas que o Dedão conta de sua infância de 11 irmãos em Aracajú na frente do cemitério no dia de finados, da galera de sua geração perdida, de outros ateísmos e anticristianismos.
Mas paro por aqui agora, ao menos por enquanto.

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