Depois daquele trampo todo na quinta-feira, da arrumação de tudo na casa, ainda assistimos um filme, na verdade um documentário sobre o tráfico no Rio de Janeiro. Além das cenas daqueles que estão destinados para a cadeia ou para o caixão, cenas do cotidiano, uma ronda na favela, bailes funks, tiroteios e bangue-bangue na favela, o documentário mostra o papel que as Igrejas de papel, pentescontais, protestantes e todas as seitas possíveis tem uma estratégia muito clara para as favelas no Rio de Janeiro. Eles conseguem fazer de ex-traficantes, ao menos os intermediários, de aliados. E assim conseguem fazer um conluio com o tráfico, estabelecem um código de moral e bons costumes de convivência na favela, que visam amenizar os conflitos e possíveis mortes, decorrentes de dívidas. Eles chegam até os cabeças do tráfico e conseguem pôr toda aquela baboseira metafísica-religiosa, e fecham os cercos. Eles substituem o poder público, o estado em várias funções, como assistência, saúde, educação, chegando ao ponto de distribuir até comida e remédios na favela pra obter a moral. Esse é o trabalho social da Igreja e dos traficantes no rio de janeiro, e ainda por cima, com a conivência de alguns policiais corruptos. Vi o filme sem nenhum escrupulo, livre de todo amoralismo, só da forma como acontece, há muito de sentimentalismo e culpa cristã nos próprios traficantes, eles sentem-se mal com seus pecados, o vazio os domina, e Deus acaba sendo um refúgio para todos seus males. Quem anda pelas perifas sabe bem do que estou falando, pois em cada quarteirão, há meia dúzia de botecos, igrejas dos mais distintos e inusitados nomes, e mais e mais bocas e pontos de tráfico disfarçadas de lojas que vendem esfirra. Só Deus salva.
Ontem também foi um dia corrido. Ainda fui trabalhar ontem, pela manhã e À noite. Entre a manhã e a tarde, fomos, com cerca de 18 estudantes da escola ceneart, que fica no centro de Osasco, ao Museu da Língua Portuguesa, no bairro da Luz. Foi bem divertido e tranquilo, como sempre, fizemos o trajeto através da antiga estrada de ferro Sorocabana. À noite, tive que lidar com os fantasmas, pois não foi nenhum estudante e choveu pra burro, mas ainda consegui passar no Teatro Municipal de Osasco pra conferir a apresentação do Flávio Guimarães do Blues Etílico, mandando ver Yardbirds e muitos outros blues. E um blues, para um homem surrado, duro e mal pago sempre cai bem, como já disse aqui. E depois, encontrando amigos, com essa chuva e esse frio, preciso encontrar um bar quente para tomar uma dose de um Domecq.
E várias fantasias passam e filmes passam pela minha cabeça, voltam cenas de moleque, entre elas várias imagens de uma lady Foxtrot vestida com seus vestidos vermelhos ou aquela outra de uma saia tubinho verde com as sobrancelhas pintadas de verde também. O ser louco, o ser quixotesco num mundo em que não te compreendem, lutando contra moinhos de ventos gigantescos. A sensação de ser um suicidado da sociedade, preso com camisa de forças, num mundo em que os loucos sagrados são execrados.
Andando na bota por diversos bairros da Terra de Oz, acabo virando mais um que faz companhia para a Dorothy de Kansas City, menina do blues, ao leão covarde, ao homem de lata sem coração e o espantalho descerebrado. Ou quem sabe eu seja o coelho branco sempre atrasado que Alice segue na profundidade da toca do coelho, comendo cogumelos, tomando chás ou sementes vermelhas de papoula de Morpheus, rumo ao país das maravilhas de Lewis Caroll e dos irmãos Warsholski, ao som de Jefferson Airplane.
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